Após quatro discos devedores de um apurado gosto multifacetado, os Gala Drop aterraram num território singular. A essência ongoing da sua formação permitiu a entrada a novas ideias sendo porém a presença da voz e das congas de Jerry The Cat, a mais notória até à data. Das primeiras impressões dub à descendência alemã do krautrock, a palete de possibilidades não cessou de crescer e surpreender mesmo os ouvidos mais familiarizados com o seu percurso. O último álbum ‘II’, de 2014, fê-los alcançar um ponto de cristalização ideal da forma e conteúdo que a obra foi obtendo ao longo do tempo. A fervura do groove africano e a infusão de elementos da dança – por via da house – torna-os desde logo num objecto fortemente rítmico e contagiante. Por outro lado, os cânticos evocativos de Jerry complementam as paisagens narco-oníricas perfeitamente propícias a um fluir mental prazenteiro, aberto a muitas e benéficas deambulações. Ambas as realidades apresentam-se contudo condignamente unidas pelas mãos de quem sabe o que pretende criar com aquilo que tem. E aquilo que os Gala Drop têm é algo de facto especial, ganho a experiência sim, no entanto conservando também a real frescura de quem nunca cessa de imaginar diferentes roupagens para a sua existência base.
Com as melhores memórias da última vez que passaram pela sala da ZDB, numa noite partilhada com a alquimista pop Laurel Halo, este retorno representa uma oportunidade sempre imperdível de acompanhar na primeira pessoa uma investigação permanente transfigurada depois em acesa celebração cada vez que pisam o palco. Seja na posição de reencontro ou em jeito de apresentação, este funk dos novos tempos é dirigido a todos. NA