Para muito boa gente, o nome de Gary Lucas pouco dirá. Um guitarrista anónimo que acompanha os famosos? Um virtuoso dos estúdios? Um simples contratado, entre tantos outros da história da música popular, sem direito à memória? Errado. Este homem é um dos maiores guitarristas vivos. Lembram-se dos riffs e dos acordes que enleiam ‘Grace’ e ‘Mojo Pin’ de Jeff Buckley? Uma boa parte pertence-lhe. Ouviram os instrumentais dos últimos discos de Captain Beefheart & The Magic Band? São dele. Conseguem escutar o blues de hoje, que é fracturado e áspero mas, também, atraente e insinuante? Gary Lucas ajudou a construí-lo, ao lado de gente como Beefheart, Buckley, os U.S. Maple e, até, muitos protagonistas do free-folk. Nomeado para um Grammy, este nómada nascido em Nova Iorque consegue tirar sons acústicos de uma guitarra eléctrica e vice-versa. Namora sem pudor a música latina e outras tradições mais distantes, compõe para cinema e televisão e tem um talento especial para inventar arranjos e traduzir estilos, géneros e formas de trocar (do fingerpicking à surf-music passando pelo psicadelismo e o jazz). Não é um talento qualquer. Gary Lucas tem uma empatia misteriosa com a guitarra, um gosto especial em ferrar-lhe as mãos. Diverte-se. Deleita-se nesse acto, que pode ser violento e romântico (a maioria do temas que gravou com Buckley, inclusive no fabuloso “Songs to No One 1991-1992”), desconcertante (nas versões de temas famosos da pop e de partituras de banda sonoras) ou pleno de groove nos concertos com a sua banda, os Gods & Monsters.
Como vai ser esta noite, o acto de Gary Lucas? Entrem e oiçam. JM