Autêntico viveiro de boa parte dos representantes mais ilustres da electrónica abstracta, a Hippos in Tanks tem vindo a captar o espírito DIY aliado às novas possibilidades tecnológicas. James Ferraro, Nguzunguzu, Laurel Halo ou Hype Williams têm-se afirmado como criadores honorários dessa plasticidade pop e multi-referencialista que perfila cada um e, por conseguinte, uma possível identidade sonora da editora.
d’Eon faz parte dessa genealogia que alberga muita da herança musical dos 80s a uma existência enraizada ao conceito New Age. Paira, portanto, uma harmonia constante na sua obra, uma fluidez na forma como as melodias se enlaçam aos ritmos, concretizando-se numa experiência naturalmente imersiva. Numa música tão livre de delimitações formais, demarcada dos escapes kosmiche e mais concentrada na
tranversalidade actual do RnB e na composição contemporânea, a criação desse espaço sideral é uma busca elementar. De resto, trata-se de um cenário propício ao cultivo de alguma ambiguidade estética que o produtor canadiano tem vindo a manter e explorar com mérito – e próximo a Autre Ne Veut ou How To Dress Well. Com quatro álbuns editados e um EP de colaboração com a conterrânea Grimes, d’Eon chega ao Aquário da ZDB com o mais recente disco homónimo, centro de atenções o ano passado para respeitadas publicações online como a Fact ou Tiny Mix Tapes. Num pólo oposto, embora editando na mesma casa, encontra-se o duo norte-americano Gatekeeper. Luxuosamente visuais, a nível de artwork e na evocação sonora das suas composições, Aaron David Ross e Matthew Arkell parecem focar a sua produção para resultados maximalistas. Improváveis no conteúdo e sinuosos nos percursos, são mestres na criação de atmosferas de suspense, colocando-os ao lado de gente como Zombie Zombie, Teengirl Fantasy, Nguzunguzu ou os históricos Goblin, que se dedicaram a tornar a electrónica num lugar mais assombrado. Elementos que naturalmente incorporam o teor retro-futurista associado à imagética de ‘Blade Runner’, o clássico de Ridley Scott, ou à obra seminal de John Carpenter. Reconhece-se arte na criação de ambientes densos, mas nem por isso negligenciam a urgência festiva tão essencial à música de dança – e que neste caso segue o rasto do sempre valioso legado de Detroit.
Em contramaré do crescente fetichismo vintage de padrões lo-fi, os Gatekeeper optam por uma definição sonora o mais fiel quanto possível. Conscientes do seu tempo e das suas escolhas, criam um ponto de encontro deliberadamente retro-futurista, sem que o peso estético de tal expressão. Ou, como os próprios já referenciaram numa entrevista, o alcance de um “som HD”.
Giza e o mais recente Exo permanecem como as melhores ilustrações do universo intrigante que o duo tem vindo a sedimentar até à data. Um convite ao lado mais negro da fantasia em modo after-hours.
Duas rigorosas estreias nacionais, dois prismas diferentes do espectro electro-pop nos dias de hoje. NA