Transmutação pop. Há quase uma década que a norte-americana Geneva Garvin (Jacuzzi enquanto entidade artística) parece comprometida nessa tarefa que se vem assumindo como filosofia ongoing. Veste do avesso as roupagens menos habituais da electrónica, inspiradas pela intuição punk e pelo borbulhar vintage de sintetizadores descontinuados. A genética de veludo, néon e naftalina desde logo a colocou lado a lado com outros celebrados autores lo-fi desta época tais como Nite Jewel, Maria Minerva e, obviamente, Ariel Pink. Algures em 2008, deu-se uma era dourada para esta geração patrocinada por uma blogosfera realmente atenta ao que se ia passando fora do radar – espaços como Altered Zones, Rose Quartz ou 20jazzfunkgreats deram o seu precioso contributo. Dir-se-ia que a partir daí cada um seguiu caminhos diferentes, junto de múltiplos públicos e seguramente em maior escala. No caso de Geneva contudo, manteve-se no seu habitat primordial, centrada em apresentações fortemente performativas em espaços auto-sustentados ou galerias de arte assim como a aposta em edições de autor.
Errante, todavia sempre produtiva, há demasiado tempo que não se escutavam sequer escassos ecos do que vinha então a produzir. Até que este ano surge Technophelia, primeiro acervo de composições, num intervalo de quase cinco anos, e gravado num estúdio dito profissional. Não deixa de ser curioso que tenha sido uma editora especializada em reedições, a mui recomendável Medical Records, a pegar nesta fase 2.0 de Geneva Jacuzzi. Isto pelo factor extemporâneo que mantém, como objecto fora do seu tempo. Na realidade, essa intermitência de outputs não trouxe exactamente uma figuração radical do que até aqui vinha a ser entendido como algo já familiar.
A dark wave fumarenta e vagamente erótica continua a palpitar em cada tema-portal de Technophelia. O que se encontra para lá são frames de uma saudável overdose VHS algures entre o oculto de Kenneth Anger ou Jodorowski e a tensão de Carpenter, acompanhada pelo manto electro psicótico germânico que resgata pistas a Nina Hagen ou Gina X. A infusão destes elementos acaba por se enlaçar a um elaborado groove noctívago, pejado de referências, por vezes até largamente díspares (pense-se em ambientes lounge exotica, toadas industriais ou até mesmo found sounds).
Quem se cruzou com a estreia nacional de Geneva, algures em 2009, assistiu não a um concerto no conceito mais tradicional do termo, mas sim a um momento de expressividade extra-musical. Como artista visual que é, há que esperar neste regresso – que representará certamente novidade para alguns – um robusto apelo aos sentidos. Se preferirem, um ‘walk on the wild side’ encaminhado por uma das freaks mais deliciosas da nossa actualidade. NA