Músico com uma relação de cumplicidade já bem enraizada com este país, através de presenças e colaborações e de onde surge Norberto Lobo enquanto eixo particularmente forte, Giovanni Di Domenico faz-se rodear de oito músicos para apresentar no Aquário aquele que é o passo solitário mais ambicioso e afirmativo de um mosaico fértil em acontecimentos, colaborações e explorações destemidas e de valência. Pianista, performer e compositor cuja discografia remonta ao final da década passada e que se abre por entre o jazz, a improvisação livre, minimalismo, drone e demais matéria que habita nas fendas entre géneros e que tem servido de bússola para a sua editora Silent Water e encontros com gente como Jim O’Rourke, Tetuzi Akyiama, Tatsuhisa Yamamoto ou Manuel Mota.
Assumindo a gravação de quase todos os instrumentos, Di Domenico partiu de uma suite de seis partes distintas para as reordenar no fluxo contínuo desta longa ‘Insalata Statica’. Gestalt cuja lógica interna é alinhada pelo piano e se vai transmutando num caleidoscópio de sopros, percussões, guitarras ou electrónica não completamente distante do monumento ‘The Visitor’ do Jim O’Rourke, e retrocedendo a ‘Bad Timing’ e, em movimento tangente, aos enredos sonhadores dos Stereolab nos seus momentos mais expansivos – Blue Milk, Refractions in the Plastic Pulse, etc – e devedores da hipnose percussiva do Steve Reich captados no espaço harmónico da ECM. Cinco anos de gravação, overdubbing e edição, a acolher linguagens e dinâmicas para um álbum com tanto de acolhedor quanto de imprevisível, afoito ao rigor austero do composição mais rígida, flutua celeste numa aquasidade que aqui se revela na sua maior imensidão. BS