Originários de Dublin, os Girl Band são uma coisa rara no universo musical das Ilhas Britânicas: uma portentosa banda de noise-rock. Estrearam-se em 2012 com France 98, despertando a atenção de certos críticos e algumas publicações, mas sem provocarem o entusiasmo intenso que consagra a recepção das grandes promessas. Esse chegaria este ano com o EP The Earlier Years, momento em que o quarteto se abandona aos ritmos (mais e menos dançáveis) da electrónica, sem expulsar a força da bateria e das guitarras. Exactamente, os Girl Band não têm a nada a ver com os The Rapture e excrescências semelhantes. Se pilham alguma coisa ao disco, ao funk ou ao techno, é o esboço de um groove logo arrebatado pela percussão frenética, por nuvens de feedback ou pela voz de Dara Kiely, que parece gritar da rua. Referências? Há as que têm 30, 25 anos e mais hodiernas, actualíssimas. Nunca mais acabam, vibram nos instrumentos, mas como nas melhores bandas ouvem-se apenas por instantes. De imediato, se recolhem sob as canções e a dinâmica dos quatros músicos. Podia-se, é verdade, dizer o mesmo da música dos Radiohead, mas no som dos Girl Band tal indeterminação torna-se mais excitante, mais juvenil, como o novo disco, Holding Hands with Jamie (Rough Trade) tão bem dá a ouvir.
Não são necessários dotes de adivinho para imaginar a presença (merecida) desse título na lista final de discos de 2015. É um trabalho espantoso que, enraizando os Girl Band na narrativa da música britânica (e aqui incluem-se, como é óbvio, muitos nomes não britânicos), expande o universo de Dara Kiely, Alan Duggan, Adam Faulkner e Daniel Fox no sentido de outras geografias e histórias musicais. Não vale a pena descrevê-las aqui, pois cabe aos ouvintes descobri-las. O que interessa é que há uma multidão que grita e dança neste disco e que dançará nesta noite ao som de uma banda de noise-rock. JM