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Golden Retriever ⟡ Carga Aérea

sex13.04.1822:00
Galeria Zé dos Bois


©Vera Marmelo
©Vera Marmelo

Golden Retriever

Fazer das limitações um trampolim criativo. Parece ter sido assim que ao longo da última década Jonathan Sielaff e Matt Carlson foram gerando uma frutuosa torrente criativa. Esse reconhecimento de si, para posterior entrega a território desconhecido, só veio tornar a experiência mais genuína e inesperada. Com duas linhas instrumentais bem definidas, desenharam uma fabulosa constelação sónica em constante expansão. E tudo isso como? Com um clarinete e um sintetizador analógico. O improvável encontro dos Golden Retriever é um sonho molhado de quem muito se embrenhou na crepitação da kosmiche alemã e se deixou ascender pela erupção do free jazz. Popul Vuh e Alice Coltrane na mesma nave, em rumo incerto.

Ainda que nos anos recentes tenham ingressado no brilhante catálogo da Thrill Jockey – cujo nome é já de si uma lenda – muito do seu percurso foi calcorreado a pedra e cal. As edições de autor e a aproximação às famílias Root Strata e NNA Tapes levou-os a escalar a montanha do devido reconhecimento. A seu tempo, marcaram presença em diversos festivais e outros pontos estratégicos, mas acima de tudo provaram a sua capacidade de reinvenção, aparentemente inesgotável. “Light Cones” é um delírio maravilhoso, soando tão magnético e essencial quanto já soava em 2011. Daí já foram muitas as miragens materializadas. “Occupied with the Unspoken” trouxe mais composição e menos improvisação, enquanto “Seer” abriu o leque de linguagens  até então ocultas. Com “Rotations” assinaram o que veio a ser a sua maior prova de amor ao mundo. Combinações aquosas, arquitectadas com rigor e instinto certo, num registo entre o neo-clássico e a vanguarda – num cenário seguramente abençoado pelos Talk Talk, Rachel’s ou The Necks. Escutam-se notas soltas de piano ou o crepitar das cordas numa meditação que a qualquer momento poderá ser interrompida pelo caos. As cores e os movimentos entram em modo slow motion, realçando o que de melhor sabem oferecer, ou seja, a disrupção com o concreto.

Um dos casos mais originais na música exploratória deste tempo que chega, por fim, a solo nacional. Não se sabe ao certo o que esperar da sua apresentação, sobrando no entanto a convicção de que será possível experienciar um desfiladeiro, uma cascata ou um deserto em pleno Bairro Alto. O carácter evocativo dos Golden Retriever é uma das melhores dádivas deste 2018 em descolagem. NA

Carga  Aérea

Carga  Aérea é o nome de Francisco Marujo e a sua tentativa de sonorizar o ar que permeia o quotidiano, de fazer vibrar as partículas invisíveis que movem a vida, tanto nos momentos mais soturnos como nos mais reluzentes. O produto final é uma massa sonora ambiental que ora se concentra ora se dissolve, ora se acalma e repete, ora se agita e diverge.

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