Depois de um ressurgimento, inesperado e fascinante, nos primeiros decénios deste século, o avant-rock (lamento, não me lembro de melhor termo) feito nos EUA voltou a esconder-se. Algumas bandas abraçaram de vez a electrónica, outras abandonaram a edição regular de discos ou simplesmente desapareceram. É a lei da sobrevivência musical, dirão os adeptos do progresso e da evolução. O futuro, insistirão, é da mistura global e imparável de estilos, melhor ainda, da eliminação de estilos. Felizmente há quem, quiçá alheio ao discreto “debate”, rejeite estes lugares-comuns, mantendo-se fiel às guitarras, à bateria e à voz, e sobretudo às histórias que estes intrumentos criaram em conjunto. Os nova-iorquinos de Brooklyn, Guardian Alien, por exemplo. Quando nasceram pareciam um projecto passageiro, daqueles que ocupam os músicos por um período determinado de tempo. Mas tornaram-se noutra coisa: numa banda. Agradeça-se a Greg Fox, ex-Liturgy, homem de colaborações avulsas (Man Forever, Zs ou C. Spencer Yeh), que manteve os Guardian Alien em estado da alerta com dois belos discos, “See the World Given to a One Love Entity” (2012) e “Spiritual Emergency” (2014). Naturalmente, não é o único a merecer encómios. Estes repousam também, com toda a justiça, sobre a(s) vozes e as performances da vocalista Alex Drewchin, o sitar de Turner Williams Jr e as guitarras de Bernard Gann e Eli Winograd. Na verdade, é justo dizer que o contributo de cada músico forma e consolida o som da banda. E é impossível separá-los, isolá-los. Há uma orgânica que se intui na relação entre as nuvens criadas pelo feedback, a percussão ora delicada, ora frenética, a presença alucinatória dos samples e dos efeitos dos pedais. Mais revivalismos new-age? A referência ao sitar e o groove magro da percussão podiam sugerir esse desastre, mas nada disso. No mínimo poder-se-ia dizer que os Guardian Alien redimem, com a expressão da voz, com a energia da eletricidade, a fusão educada e a variedade rítmica dos Tortoise. Reparem no título do segundo disco. Se há hoje banda americana que merece ser seguida com espanto e fascínio é esta. JM
