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Hey Colossus ⟡ Killimanjaro

qui28.04.1622:00
Galeria Zé dos Bois


Hey Colossus
Killimanjaro

Hey Colossus

Há mais de dez anos e oito álbuns que os londrinos Hey Colossus andam a fazer, em terras britânicas, algo que um crítico como Simon Reynolds não hesitaria em chamar de reacionário, inútil, anacrónico. O quê? Reavivar o espirito do rock britânico. E não estão sozinhos nessa empreitada. A eles juntam-se grupos como os Part Shrimp, Gnod, Shit & Shine, Teeth Of The Sea ou Todd, num movimento que, embora diverso em termos estílicos, recorda o regresso ao proto-punk, que os Spacemen 3, os Telecopes, os My Bloody Valentine, os The Walking Seeds ou os Loop, nos anos 80 do século XX tão bem interpretaram.

Recorda, mas não imita, enfatize-se. A paisagem musical alterou-se muito desde que o brit-pop e a cultura rave diluíram as memórias do Stooges, dos Cramps ou dos Hawkwind no interior dos espíritos das bandas inglesas. Uma sucessão de ondas (tecno, drum and bass, hip, hop, noise, free-jazz, “música do mundo”) abateu-se sobre a Ilha e transformou-a irremediável e musicalmente, até ao início de um novo ciclo. O trabalho de rememoração de Julian Cope (em livros e na Internet), concertos de diversas bandas (US Maple, Boredoms, Jesus Lizard) e a liberdade de acesso à música de catálogos perdidos, propiciado pela Internet, vieram reposicionar o rock num lugar menos periférico, mas coube sobretudo às bandas a tarefa de afirmar o género no espaço público (apesar das profecias dos críticos).

Os Hey Colossus são uma dessas bandas. Um sexteto que em Radio Static High (Rocket Recordings, 2015) se destaca dos seus pares, pelo talento com que consegue engolir e verter diferentes estilos e referências. Uma síntese em movimento constante, que nasce no psicadelismo denso e espacial, converte-se no rock espático do Jesus Lizard e das bandas da Skin Graft e muta-se na marcha motorik dos Neu (com uma vénia aos Oneida). Sobre esta progressão, a voz de Paul Sykes vai-se modificado, acolhendo tons e emoções distintas, contra ou em favor do som dos instrumentos. Escuta-se mais branda, quase quebrada ou mais violenta, impaciente. Ou simplesmente abandonada à agitação das guitarras, seguindo o ritmo que se expande refinado, quase impercetível. É nesse momento que os Hey Colossus olham para trás, na direcção dos Can, de Brian Eno, dos Hawkwind, de David Bowie. O ciclo continua, com um capítulo especial reservado para esta noite. JM

Killimanjaro

Os Killimanjaro são gente nova com espírito antigo. O trio de Barcelos – composto actualmente por José Gomes, Joni Dores e Luís Masquete – iniciou actividade em 2011 e a desculpa para tocar uns riffs e experimentar acaba por se transformar numa missão em criar temas memoráveis, onde o riff é o mestre e senhor, e tocar ao vivo como que a vida dos três magníficos dependesse disso.

No mesmo ano de 2011 editam o auto-intitulado EP de estreia. Sete temas dão origem a sete viagens alimentadas por um stoner rock que sempre estimou os uivos de José Gomes. Os concertos (dezenas) continuam a acontecer e navega-se em direcção a um longa-duração, o primeiro: Hook.

Composto por oito temas num total de 36 minutos, Hook é a evolução de quem não quer esquecer as suas raízes. A diversidade faz com que cada tema em Hook tenha uma vida própria e não dependa dos outros para abalarem o mundo dos que não têm medo de se aventurar.

O stoner característico de Killimanjaro, muito influenciado pelos suecos Graveyard, alia-se a uma veia muito punk, aquela veia que teve presente nos Iron Maiden (com Paul Di’Anno) e os lendários The Obsessed, para largar a bomba que é Hook.

Gravado nos Estúdios Sá da Bandeira Hook é basicamente aqueles Killimanjaro que conhecemos. A sonoridade crua, directa e os sempre excitantes uivos, constantes numa banda dirigida por riffs e acompanhada por uma secção rítmica onde o groove é imperativo. Hook é apenas o escalar de todos os níveis. Em 2016 os Killimanjaro são autores de uma sonoridade (rock ‘n’ roll) perigosa, tal como os Motörhead nos ensinaram.

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