Há mais de dez anos e oito álbuns que os londrinos Hey Colossus andam a fazer, em terras britânicas, algo que um crítico como Simon Reynolds não hesitaria em chamar de reacionário, inútil, anacrónico. O quê? Reavivar o espirito do rock britânico. E não estão sozinhos nessa empreitada. A eles juntam-se grupos como os Part Shrimp, Gnod, Shit & Shine, Teeth Of The Sea ou Todd, num movimento que, embora diverso em termos estílicos, recorda o regresso ao proto-punk, que os Spacemen 3, os Telecopes, os My Bloody Valentine, os The Walking Seeds ou os Loop, nos anos 80 do século XX tão bem interpretaram.
Recorda, mas não imita, enfatize-se. A paisagem musical alterou-se muito desde que o brit-pop e a cultura rave diluíram as memórias do Stooges, dos Cramps ou dos Hawkwind no interior dos espíritos das bandas inglesas. Uma sucessão de ondas (tecno, drum and bass, hip, hop, noise, free-jazz, “música do mundo”) abateu-se sobre a Ilha e transformou-a irremediável e musicalmente, até ao início de um novo ciclo. O trabalho de rememoração de Julian Cope (em livros e na Internet), concertos de diversas bandas (US Maple, Boredoms, Jesus Lizard) e a liberdade de acesso à música de catálogos perdidos, propiciado pela Internet, vieram reposicionar o rock num lugar menos periférico, mas coube sobretudo às bandas a tarefa de afirmar o género no espaço público (apesar das profecias dos críticos).
Os Hey Colossus são uma dessas bandas. Um sexteto que em Radio Static High (Rocket Recordings, 2015) se destaca dos seus pares, pelo talento com que consegue engolir e verter diferentes estilos e referências. Uma síntese em movimento constante, que nasce no psicadelismo denso e espacial, converte-se no rock espático do Jesus Lizard e das bandas da Skin Graft e muta-se na marcha motorik dos Neu (com uma vénia aos Oneida). Sobre esta progressão, a voz de Paul Sykes vai-se modificado, acolhendo tons e emoções distintas, contra ou em favor do som dos instrumentos. Escuta-se mais branda, quase quebrada ou mais violenta, impaciente. Ou simplesmente abandonada à agitação das guitarras, seguindo o ritmo que se expande refinado, quase impercetível. É nesse momento que os Hey Colossus olham para trás, na direcção dos Can, de Brian Eno, dos Hawkwind, de David Bowie. O ciclo continua, com um capítulo especial reservado para esta noite. JM