Na música dos Hidden Horse habita um certo prenúncio pós-apocalíptico. Talvez pelas cores que a música enuncia, ou a sensação de que se está a viver numa qualquer realidade filmada em CCTV. Apesar disto, é difícil de dizer que a música do duo formado por João Kyron (teclas/electrónica) e Tony Watts (bateria) seja pessimista ou um reflexo de um qualquer cataclismo anunciado. Não, e talvez aí aconteça a diferença de criar música de formação hauntology numa cidade como Lisboa: a sensação, os fantasmas, estão lá, mas a pressão de um céu cinzento a cair-nos em cima não; continua a existir tensão, pressão, mas há mais uma sensação de ruína do que tudo a ruir. A diferença é notória. É música que não nos pesa nem nos ombros nem na cabeça. Faz-nos dançar.
Depois de “Opala” (2022), os Hidden Horse apresentam na ZDB o seu novo trabalho, “Incorporeal”. Dia de lançamento e de realização de mais de um ano de trabalho, em que Kyron e Watts foram percebendo de como poderiam trazer as dinâmicas ao vivo, de quando interpretavam os temas de “Opala” em concertos, para o estúdio. “Incorporeal” sente-se mais livre, o som respira, as influências do passado – krautrock e industrial – são agora assimilações abertas, menos apegadas à forma e com maior vontade de criar sensações. A imaterialidade a que o título alude não é apenas dos temores que associamos ao mundo da hauntology, do futuro que nunca poderemos realizar, mas também às sensações de que a música dos Hidden Horse faz sentir no presente: querendo descolar das primeiras impressões, indo para outros voos.
Ao vivo tornam-se um trio, com Ana Farinha (Candy Diaz) a ajudar na transformação do som preciso de estúdio para um acontecimento muito orgânico, que permite que Kyron e Watts também se soltem e possam partir para locais próximos do cosmos do krautrock. AS