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Música
Concertos

Islam Chipsy

qua14.10.1522:00
Galeria Zé dos Bois


Islam Chipsy é rápido a distanciar-se de qualquer posicionamento político na sua música. E de géneros também: em entrevistas faz questão de dizer que o que faz não é Electro Chaabi ou Mahraganat, talvez as duas mais vibrantes sonoridades que se podem descobrir nas ruas do Cairo ou de Alexandria. Mas claro que se sente uma dimensão política na sua música. E claro que há uma ligação ao Electro Chaabi e ao Mahraganat (esta palavra árabe traduz-se como “festival”…).

A dimensão política que se adivinha em Kahraba, o mais recente trabalho assinado pelo projecto EEK featuring Islam Chipsy, é óbvia: isto é música que nasce de uma tradição específica – música de rua, pop egípcio, música árabe clássica, tudo coordenadas que Islam Chipsy retrabalha num turbilhão psicadélico contemporâneo que deve alguma coisa à tradição, mas aponta ao futuro através da amplificação, da tecnologia (Kaharaba traduz-se como “Electricidade”) e da vontade de evoluir. Tudo ideias que animaram a Primavera Árabe cujos efeitos também se fizeram sentir de forma dramática no Egipto.

Ao despir a sua música de uma dimensão política, Islam Chipsy está na verdade a reclamar espaço de acção e liberdade de movimentos. E aos 30 anos, este músico tem muita amplitude de movimentos para desenvolver a sua música singular. Em clubes, trabalhando sobre um modelo mais tradicional com cantores, em casamentos, como músico de sessão e ao vivo com dois bateristas no projecto EEK, Islam Chipsy tem desenvolvido uma sonoridade que não tem real paralelo: o seu estilo no sintetizador deriva do estudo sério dos modos da música clássica árabe, mas o seu método de execução é completamente diferente, com Islam a usar os punhos e a desrespeitar completamente as regras da fidelidade áudio para criar uma música intensa, hipnótica e completamente improvisada. Chipsy faz questão de explicar que nunca ensaia com os seus bateristas – mas os clips de youtube ou as gravações de concertos disponíveis no soundcloud revelam um entendimento quase telepático entre Islam Chipsy e os músicos que o secundam. Ao vivo, o trio debita uma barragem incessante de beats e melodias de recorte árabe que impulsionam ritmos e danças desenfreadas na pista de dança. Uma espécie de irresistível orgia sonora que choca, primeiro, e arrebata, logo depois.

Este é o som de um Cairo moderno, caótico, quente, misterioso que Alan Bishop, o lendário músico dos Sun City Girls, começou por gravar num álbum que levou o título de Live at the Cairo High Cinema Institute, editado em 2014 pela etiqueta egípcia/argelina Nashazphone, e que já este ano teve seguimento com Kahraba, na mesma editora. Em entrevista à Quietus, Chipsy confessa o amor pelo hip hop, admite ter referências na cena Electro Chaabi, revela que ouve sobretudo pop egípcio, mas devota todo o tempo disponível a explicar que este é som novo que resulta de um apurado estudo do passado e de uma vontade clara de renovação. Na mesma entrevista, Chipsy também faz questão de dizer que odeia metal. Mas a verdade é que Kahraba é, de certa maneira, tão extremo e tão imersivo como o metal mais avançado. Fica o aviso! RMA

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