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James Ferraro ⟡ Ducktails ⟡ Typhonian Highlife

sáb27.05.1722:00
Galeria Zé dos Bois


James Ferraro
Ducktails
Typhonian Highlife

James Ferraro

Visionário absoluto desde que formou com Spencer Clark esse meta-ritual DIY que foram os Skaters, James Ferraro tem marcado de forma indelével a música e o pensamento livre neste século por via de uma complexa e idiossincrática rede de ligações metafísicas, sociológicas e filosóficas cuja descodificação está ainda longe de ser devidamente analisada e concluída.

Num plano mental, onde os templos Pura de Bali e os centros comerciais abandonados do Midwest são espaço de igual devoção, tem construído uma pan-cartografia imensa de onde emergem peças mestras em baixa fidelidade sob uma miríade de pseudónimos – Teotihuacan, Lamborghini Crystal, Pacific Rat Temple Band, Edward Flex, etc. – dispersas em CDR e cassete de misticismo Xerox na sua New Age Tapes.

Por alturas do celestial “Marble Surf” (2008) começa a assumir o seu nome próprio com mais incidência, abrindo os olhos ao CMYK para coisas como os vários volumes da “Summer Headrush Series” (2009) ou o glam rock enviesado de “Nightdolls With Hairspray” (2010) até chegar à hiper-realidade do continuamente fascinante “Far Side Virtual” (2011). Orquestra de ringtones a marcar uma passagem para o deslumbramento digital que se viria a transmutar em tangentes ao rap e ao r&b sob a forma de mixtapes e álbuns como “NYC Hell 300 AM” (2013) ou “Skid Row” (2015) e que ganhou novo fôlego de inspiração orquestral com “Human Story 3” lançado já no ano passado. Poema tonal que absorve o mundano para o dotar de toda uma dialética e simbolismo próprios, encontra no MIDI a humanidade panorâmica da Pixar por entre as cordas, flautas, pianos e vozes numa espécie de distopia muzak que se acerca da música contemporânea e que viria ser explorada de forma mais incisiva na intrigante peça para pianos de “Burning Prius”. Génio. BS

Ducktails

Veículo solo de Matthew Mondanile – ex-Real Estate e Predator Vision – que arrancou circa 2007 num ambiente simbiótico com aquilo que os meliantes Spencer Clark e James Ferraro andavam a fazer, mas com uma maior proximidade à pop e que o deixava próximo do universo criado pelos Haunted Graffiti de Ariel Pink pré-4AD. Desses tempos carcomidos pelo sol e pela fita, passados em editoras como a Future Sound Recordings, Not Not Fun ou Woodsist, que viriam a contribuir para o mosaico que David Keenan chamou de Hypnagogic Pop, Mondanile guardou as memórias do “Endless Summer” ( Bruce Brown, 1966) que agora nos chegam sob a forma de canções.
Com “Ducktails III: Arcade Dynamics” (2011) a insinuar uma primeira investida pela indie pop solarenga, marca da sua ex-banda, Mondanile viria a estreitar relações com a canção, contando com os préstimos de gente como os Big Troubles ou Julia Holter. Canções envoltas numa nostalgia enevoada, vistas à lente crepuscular e psicotrópica daqueles finais de tarde preguiçosos, feitas de harmonias sonhadoras e vozes encharcadas em reverb, a perpetuar um arco narrativo enviesado do jangle que alinha Byrds, Go Betweens ou Galaxie 500 e vive hoje em gente como Julian Lynch ou Mac DeMarco. BS

Typhonian Highlife

Se a Spencer Clark nunca foi reconhecida a dimensão popular do seu comparsa nos Skaters, a verdade é que tal não se deve em nada ao mérito, valência ou visão da sua trajectória a solo. Enquanto Ferraro se espraiou em inúmeras direcções, deixando um rasto incatalogável mas inevitavelmente enredado com a matéria residual da pop, Clark conduziu sempre as suas encarnações num contínuo com as premissas mais ideológicas, especulativas e oníricas da space age e da exotica,, para um universo paralelo a partir desse estúdio imaginário da Pacific City – do mantra hipnótico lo-fi de Vodka Soap, ao tropicalismo new age febril e em levitação rítmica das várias encarnações de Monopoly Child ou Black Joker até à musique concrète imersiva das paisagens australianas em nome próprio.

Adoptando uma mitologia particular onde o pseudo (?) profeta Charles Berlitz surge como guru, constrói uma história alternativa repleta de alusões simbólicas – os candelabros de Vodka Soap ou as mandalas de Monopoly Child – e epifanias onde as visões do Desmond Leslie e do George Adamski se reflectem nos trópicos do “Fourth World” do Jon Hassell e o Pinhead do “Hellraiser” é trazido para o sonho de “Fantasia” por entre sintetizadores, percussões e gravações de campo. É nesse contínuo contextual que Clark nos visita agora enquanto Typhonian Highlife, que após os labirintos sci-fi naturalistas de “H.R. Giger’s Studiolo” (2014) e “CD Cenobytes Wunderkammer” (2015) chegou recentemente a um novo estado de existência feito de justaposições inusitadas de mundos reais e imateriais com “The World of Shells” (2016) na belga KRAAK. BS

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