Se a música pode ser um ponto de encontro entre uma nuvem de pontos dispersa de geografia, expressão cultural e até massa geracional, então Janka Nabay é uma força convergente. O espólio sonoro de África calcula-se que seja eterno e ao longo dos últimos anos, muitos têm sido os resgates valiosos ao tempo e à memória – com a consagração, ainda que tardia, mas sempre bem vinda, de grandes mestres. Cabo Verde, Nigéria, Angola ou Etiópia foram regiões que figuraram nessa operação de revalorização, com impulso de carreiras ou uma série de reedições de luxo de material esquecido. Todavia a região da Serra Leoa ainda parece um refúgio exótico de onde ainda consta parca documentação musical. Reconhecida pelo highlife, género tradicional emerso entre múltiplas guitarras e cores garridas, a região guarda ainda a chamada bubu music em que Nabay se estabeleceu como expoente máximo.
De tradição muçulmana e usada em celebrações folclóricas locais, a polirritmia das flautas de bambu fundem-se com a electricidade das drum machines e teclados impregnados de celebração divina. Tornando-se o primeira artista de sempre a registar em estúdio a linguagem bubu, foi a milhares de kilómetros da sua terra natal, no bairro de Brooklyn, Nova Iorque, que o músico encontrou o seu pousio – e toda uma comunidade que desde logo o acarinharam. Actualmente apresenta-se com a sua banda suporte, os Bubu Gang, de onde se incluem membros de bandas como Skeletons, Gang Gang Dance ou Starring. Nada disto aconteceu numa tentativa de modernizar algo ou alguém; na verdade, o que hoje escutamos em Ahmed Janka Nabay – e esse gosto pelo digital e pelo analógico – já há muito pairavam na produção deste rei. Tal como Ata Kak ou o produtor sul africano Nozinja (responsável pelo carimbo do shangaan electro), esta é uma ponte legítima, e até inevitável, entre a tradição local e a modernidade global. Em comum possuem uma infinita fonte de festa corporal e ascensão espiritual.
Após uma passagem pela pequena mas influente editora True Panther, o mago David Byrne convidou-o para ingressar no catálogo da sua Luaka Bop. É de lá que chega o último disco ‘Build Music’, editado em março deste ano. Provavelmente o seu álbum mais consistente até à data, nele a transparência das guitarras enlaçam-se na palete cromática dos sintetizadores, abrindo espaço às vozes pontuais e portadoras de uma verdade regenerativa, para ser partilhada no colectivo. Esta é música que celebra, pacifica e adorna, com as formas mais elegantes, qualquer momento de silêncio como uma tela em branco. Haja sol, calor e Janka Nabay que o Verão já arrancou.