A luxúria das cores, o apelo sensorial dos sabores e a dimensão espiritual de uma cultura ancestral como a árabe sempre foram e serão elementos de fascínio segundo o olhar ocidental. Um encanto inebriante, quase que natural, constantemente retomado no largo espectro da pop. Dos canônes do techno pelos Acid Arab, passando pelo nervo tribal dos Rainbow Arabia ou Goat, até aos cenários vanguardistas apocalípticos de Muslimgauze, todos eles – e muitos outros – trazem uma reconfiguração pessoal dessas referências. Se se tratam de visões fabricadas ou exacerbadas em torno de símbolos ou percepções, será uma questão pouco relativa em termos criativos. A origem e o destino acabam por ser pontos menores quando é o vigor dessa viagem que surge como força vital. Por cá, Jibóia tem feito o seu percurso com dose certa de brilho e mestria. O segredo assenta no modo como vem alimentando uma sonoridade escapista e envolvendo outros intevenientes no seu corpo de trabalho – abrindo por sua vez espaço necessário para importantes acréscimos e mudanças. Depois da colaboração com Sequin (ambos artistas da mesma casa, a Lovers & Lollypops), é a vez de Ricardo Martins embarcar na carripana de sons pelos desertos e vales imaginados e criados por Jibóia, passando a segundo elemento regular. E falar do Ricardo é sinónimo de falar num dos bateristas mais talentosos do país. Peça essencial no circuito de rock independente nacional, figurando em inúmeras formações como Lobster, I Had Planes, Adorno, Suchi Rukara ou Cangarra, a sua presença em palco – e fora dele – é sempre vibrante.
Fruto desta formação de Jibóia em duo, o novíssimo ‘Masala’ atesta a combustão instantânea possível entre um teclado e uma bateria. É na inclusão desta última que se sente um valente boost nos momentos de clímax. Seja na forma de expansão ou na contenção, a maneabilidade rítmica aqui presente é, como facilmente se imagina, infinitamente maior do que com os padrões pré programados usados na fase inicial. Numa alusão global a várias metrópoles internacionais, este é definitivamente um som sem fronteiras e o disco mais sólido de Jibóia até à data. Traz inclusivamente pistas para um futuro próximo para que nunca se cesse esta flamejante marcha pelo deserto. Já o sabíamos, mas Jibóia volta a lembrar-nos que a linguagem do psicadelismo é universal. NA