Quando Primeira Dama (Manuel Lourenço) “manda todos para o caralho sem excepção” em “A revolta” acontece uma fabulosa elevação à volta. Como se o adorno belíssimo de uma canção de dor se quisesse desmontar por momentos e, ao aproximar-se dessa realização, cai, regressa à espécie de encanto fantástico que envolve todos os temas de “Em Terra Alheia Sei Onde Ficar”. Álbum com muita gente convidada (Luís Cunha, Bernardo Tinoco, João Pedro Coelho, João Pereira, Ricardo Marques, Francisco Brito, João Firmino, Marta Garrett, Mariana Dionísio e Primeira Dama), João Espadinha abriu as portas a músicos e amigos, amigos e músicos ou amigos-músicos para entrar nas canções que compôs e jogarem com ele este jogo de jazz.
Ao vivo, João Espadinha soube como deixar o álbum crescer e expandir-se. Daquelas coisas que surgem por necessidade, num álbum com tantos convidados, tornou-se difícil ter toda a gente presente nos concertos para cantar as canções que o guitarrista compôs. Primeira Dama foi de convidado, a convidado-contínuo a parceiro de Espadinha nas viagens de “Em Terra Alheia Sei Onde Ficar”. Com o tempo, começou a dar passos para lá das canções onde canta no álbum (“A revolta” e “Tempos Curtos”) e a avançar para as dos outros e até outras canções do guitarrista.
A regularidade na estrada e a combinação entre os dois músicos levou-os a abraçar isto como um projecto em duo, em que o ponto de partida será sempre as canções de João Espadinha e o resto logo se verá, fruto do momento e dos espaços a que a vida os convida: sejam canções de Primeira Dama, versões ou até temas novos que os dois andem a compor. É assim que a “Em Terra Alheia Sei Onde Ficar” tem viajado, com o título a concretizar-se na execução. Voltando a “A revolta”, Primeira Dama também canta “todo o vinho que hoje bebes é igual” antes da revolta por anunciar: essa, a diferença, a surpresa, o não-igual, acontece com os João Espadinha e Manuel Lourenço no palco. AS