Em contracorrente pausada com o culto mais ou menos assumido do mediatismo e da sobreexposição, João Lobo é nas calmas um dos bateristas mais interessantes e graciosos a operar em solo europeu. Sem se colar de forma presa a qualquer linguagem específica – mesmo que seja o jazz o portal, há também o rock ou investidas experimentalistas – absorve destas e de outras, diferentes formas, estados e sensibilidades que lhe permitem encarar a sua própria música com saber e naturalidade esperta. Colaborador habitual de Giovanni Giudi ou Enrico Rava, e membro da fugaz Dream & Drone Orchestra, tem tido em Norberto Lobo um cumplíce apaixonado e pleno de sentido, materializado em ‘Mogul de Jade’ e no álbum de Oba Loba.
Abraçando novamente o guitarrista lisboeta para este seu segundo álbum em nome próprio, após incursão solista corajosa plena de textura e lirismo em ‘Nowruz’, Lobo expande o seu vocabulário a uma formação piramidal onde acorre o contrabaixista Soet Kempeneer. Gravado numa residência no conceituado Les Ateliers Claus em Bruxelas, e com edição numa parceria deste com a portuguesa Shhpuma, ‘Simorgh’ é, e à falta de melhor referência e com toda a abertura que possa implicar, jazz fusionista do bem como muitas vezes nos recusamos a aceitar que existe. Groove, exaltação e espíritos bem altos, num enredo descomplicado e de valência constante, em movimento contínuo. Passagens de guitarra pelo fogo, swing primordial, contemplação e memórias fugidias mas sempre luminosas do Miles Davis eléctrico, da Mahavishnu Orchestra, de alguma folk electrificada. A bater certo. BS