Sem querer recorrer à temática estafada do desafio, de cada vez que uma parelha de bateristas se dispõe a um acto criativo em duo, não deixa de ser meio óbvia a dificuldade em enredar a coisa sem cair na batucada mimética, lógica festivaleira do drum circle que é afinal uma linha ou no desastre improvisado. Percussion Ensemble do Sunny Morgan com o Milford Grave terá avançado muito a proposta, continuada uns anos depois com o auto-explicativo Dialogue of the Drums deste último com Andrew Cyrille, mas para todos os efeitos e passe o aparato visual das duas baterias em colisão, é ainda um terreno pouco vivido com real valência. João Pais Filipe tem-no feito com dignidade e visão ao lado de Valentina Magaletti nos CZN – disco novo na calha, já agora – e incorre agora em nova simbiose frente a frente com Pedro Melo Alves, dando continuidade a uma residência no gnration em Braga. Invariavelmente distinta desse encontro dadas as personalidades dos dois músicos, entre a sua linguagem já firmada e saídas para fora da zona de conforto, a música deste duo reflecte uma comunicação simbiótica, assente na exploração tímbrica, rítmica e harmónica das peles, metais, madeiras e gongos – estes últimos forjados por Pais Filipe -, num tempo onde coabitam ritmos hipnóticos, passagens texturais, polirritmias e clivagens de fogo. Dois músicos em intensa actividade, com João Pais Filipe sempre ocupado entre a construção de gongos e pratos, o seu duo com Burnt Friedman, HHY & the Macumbas ou a solo e Pedro Melo Alves em ampla rodagem principalmente nos interstícios do jazz, do rock e da música improvisada, através de investidas nos pós-rockers Catacombe, no The Rite of Trio, no duo com o trompetista João Almeida, no recente trio do trompetista Luís Vicente ou no seu Omniae Ensemble. BS
João Pais Filipe & Pedro Melo Alves
O concerto terá lugar no NOVO NEGÓCIO, cumprindo as regras de distanciamento social previstas pela DGS.
A lotação é limitada e o uso de máscara obrigatório.