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Música
Concertos

Josephine Foster

qua03.04.1922:00
Galeria Zé dos Bois


Josephine

E num ápice, passaram já 15 anos desde que ‘Golden Apples of the Sun’ revelou a muita gente uma trupe de freaks de espírito e coração na folk que definiram aquilo que David Keenan cunhou como a New Weird America. Gente com visões muito particulares mas que – e na falta de terminologia sucinta – se agrupava sob uma mesma reverência franca à história da folk e a levava por caminhos tão puros quanto inóspitos. E foi por lá, entre os nomes de Six Organs of Admittance, Jack Rose ou Scout Niblet que chegámos a Josephine Foster, num chamamento idílico que continua até aos dias de hoje. Alheada do labirinto promocional, carreirista, social. Imperturbável.
Da adolescência passada a cantar em funerais e casamentos até à edição sóbria do song cycle que é o álbum duplo ‘Faith Fairy Harmony’ no final do ano passado, Foster vive num estado de anacronismo abençoado, sempre premente no seu deslocamento espácio-temporal do mundano, devoto a uma verdade ancestral nas canções, que escuta e reescreve a sua tradição oral e escrita, da Tin Pan Alley, do pulsar nativo-americano, de Buffy St. Marie e Vashti Bunyan – que reaparecia também luminosa em ‘Golden Apples of the Sun’ -, da Incredible String Band, dos Apalaches e do cancioneiro erudito germânico do século XIX.
Pontos cardeais que têm sido mapeados com uma intuição que os torna seus, na sua voz de encanto e numa busca incessante ao longo de quase duas décadas: das primeiras gravações com ukelele reunidas em ‘There Are Eyes Above’, ao acolhimento caloroso a ‘All The Leaves Are Gone’ – com The Supposed – e ‘Hazel Eyes, I Will Lead You’, à tal reinterpretação idiossincrática de Brahms ou Schubert no fascinante ‘A Wolf in Sheep’s Clothing’, colaborações várias com Victor Herrerro, versões de Emily Dickinson e da poesia de Garcia Lorca, invocação da mitologia do Colorado em ‘Blood Rushing’ até ‘Faithful Fairy Harmony’. Colosso que açambarca essas várias facetas, que são afinal o código genético da sua própria música, em 18 canções que vão da balada esotérica ao andante onírico, com a participação da guitarra do ubíquo Herrero ou dos Cherry Blossoms. Música que não é propriamente New, nem Weird nem somente americana, mas de uma beleza universal. Regresso místico. BS

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