Criada a sós, com meios reduzidos e discretos, a música de Julianna Barwick tem sido expansão e multiplicação. Da melodia, da voz, dos loops. Não são tanto canções que cria, mas muito mais espaços nos quais se projectam memórias, ficções. Com Nepenthe, Julianna Barwick persiste nessa comovente loucura, mas os espaços que a sua música desenha emanam, agora, de uma geografia reconhecível e de uma alteridade concreta. Gravado na Islândia a partir de um convite de Alex Somers (músico de Sigur Rós e Jónsi & Alex), com a colaboração de músicos dos múm, do ensemble de cordas Amiina e de um coro de jovens vozes femininas, o disco tem uma espontaneidade que dilui a repetição ou a sobreposição de sons. Ampliados pela presença destes colaboradores, os loops transformam-se em ecos e progressões, a electrónica permite-se borbulhar como poucas vezes fizera. Nepenthe ― nome extraído da literatura greco-clássica para uma droga que promoveria o esquecimento da dor e do arrependimento ― transporta simultaneamente a estranheza de ter sido gravado num lugar pouco familiar e a profusão da experiência de compor pela primeira vez acompanhada. Este concerto, agraciado pela presença de um coro português, reproduz o ambiente onírico de Nepenthe, uma espécie de pele sem pele, de casulo transparente que embala e deslumbra.
Entrada
Menores de 30 anos 5€