The Sacrificial Code, trabalho amplamente aplaudido, mereceu destacado lugar nas listas de melhores registos de 2019 para um vasto conjunto de publicações, incluindo a Wire que descreveu as peças pensadas para orgão de tubos como “contemplativas”. Essa dimensão existe, de facto, na obra da compositora americana (agora baseada na Suécia…), independentemente do tipo de tecnologia de que possa em cada momento socorrer-se para traduzir as suas ideias. À Igreja de St. George, Kali Malone levará um set electrónico com que explorará, certamente, outras nuances da sua altamente criativa visão de um mundo de sons suspensos entre o cérebro e o espírito.
Os avançados estudos na Academia Real de Música de Estocolmo indicam o nível de empenho que Kali Malone coloca na sua arte que, naturalmente, não enjeita os mestres do passado (Steve Reich é uma referência bastas vezes apontada para o seu trabalho, por exemplo), mas que se faz sobretudo de uma aturada procura em nome próprio. O desafio para se mudar dos Estados Unidos para a Suécia foi-lhe apresentado por Ellen Arkbro com quem tem desde então colaborado pontualmente. Em Estocolmo, e pela mão da sua mentora, Kali Malone teve a possibilidade de trabalhar no estúdio estatal EMS, centro de investigação de música electrónica e electro-acústica bem equipado, como a própria faz questão de frisar em entrevistas, com sistemas modulares Buchla ou Serge.
Como Malone já teve a ocasião de explicar em detalhe, o seu trabalho reflecte um profundo interesse na investigação de “expressões harmónicas apagadas da nossa narrativa musical desde a standardização do temperamento igual no século XVIII”. A electrónica permite-lhe esse tipo de deriva altamente exploratória, permitindo-lhe a fuga à norma e a busca pelo inusitado ou desconhecido, com a improvisação a ser um dos recursos amplamente presentes na sua obra.
Antes de The Sacrificial Code, editado o ano passado na iDEAL, Kaly Malone lançou registos como Cast of Mind na Hallow Ground ou Organ Dirges na Ascetic House, marcos de um percurso de uma mente irrequieta e inquieta que se tem afirmado pela profunda originalidade das suas composições. Razões de sobra para tomar máxima atenção à sua apresentação na Igreja St. George. RMA