De uma independência feroz na linguagem e forma de actuação, insistindo na auto-edição através da sua I Actually Like Music como forma primordial de veicular a sua música, Katie Kim chega a Portugal no rescaldo vivo da edição de Hour Of The Ox, quinto álbum em nome próprio, após a colaboração com Crash Ensemble em Salt Interventions. Originária de Dublin, Kim tem palmilhado um território atmosférico onde o síndrome de cantautor é obliterado num sentido de descoberta constante que pede meças tanto aos processos mais vivos da composição moderna como de alguma da pop mais transviada.
Disco que caminha segura a pausadamente num limbo constante entre intimismo e teatralidade, contenção e expansividade, Hour Of The Ox é, até agora, a peça mais reveladora da visão de Kim, em nove canções onde a sua voz tão próxima, por vezes apenas acima de um sussurro, assume o eixo narrativo das suas histórias feitas de memórias difusas, paranóia, angústia e a resignação dos dias solitários. Os ritmos lentos num torpor hipnótico onde a escuridão se deixa invadir por raios de luz numa progressão deliberada e paciente para onde acorrem a seu tempo sintetizadores sorumbáticos, arranjos de cordas que dá tensão cortante chegam a espaços libertadores e sons rasteiros sem origem definida numa névoa inebriada de onde possível, ainda assim, vislumbrar alguma esperança. Valha-nos isso. BS