Voz revelada o ano passado com o magnífico disco de estreia Forever, Ya Girl, Chakeiya Richmond assina enquanto keiyaA uma das mais genuínas e promissoras aventuras para os próximos anos. É sem bolas de cristal, mas com a intuição do real, que a artista tem angariado curiosidade e reverência em seu redor. Escutá-la, com aquela entrega confessional e noção sempre certa de que less is more, recorda-nos a lição dada por Kendrick Llamar com good kid, m.A.A.d city. A narrativa das canções ou a irreverência estética na produção ressaltam de imediato, numa novela sonora algures entre a visão do afro-futurismo e a constante luta político-social das ruas de Nova Iorque – e do mundo.
Se tudo parte do R&B, ou da sua estrutura mais reconhecível, é imensamente injusto entendê-la somente desse prisma. Um dos motivos que a torna tão fascinante é precisamente esse desprendimento ao terreno comum; dedilha e contagia alguma da electrónica mais desviante, sentindo a energia latente do jazz ou da soul como faísca primal. É uma experiência refrescante e recompensadora, recordando, desde logo, que o vanguardismo não só se faz de complexidade conceptual ou visões herméticas. Erykha Badu e Sun Ra, mão em mão, com keiyaA no epicentro deste encontro imaginário.
São raras as oportunidades para testemunhar este capítulo contemporâneo da R&B ao vivo e mais ainda deste lado do Atlântico. No passado a ZDB acolheu, e em boa hora, artistas como DAWN, Kelela ou THEESatisfaction, em apresentações marcantes. Abre-se assim espaço para acrescentar mais uma importante visita, daquelas em que sentimos que poderá ser agora ou nunca. Imperdível. NA