Senhores de um currículo notável que passa por quase tudo aquilo que de mais relevante se tem passado no campo aberto do jazz e suas inúmeras intercepções, Ken Vandermark (saxofones e clarinetes) e Paal Nilssen-Love (bateria) fazem da hiperactividade uma necessidade vital para se transmutarem na procura de novas linguagens. Separados por um oceano, Vandermark e Nilssen-Love deram início a uma prolífera actividade em conjunto em 2000 com os School Days, para no ano seguinte darem seguimento a esta demanda com o trio FME na companhia de Nate McBride. Ao longo dos anos foram-se reencontrando em várias formações como o Peter Brötzmann Chicago Tentet, Lean Left (com Terrie Ex e Andy Moor) ou Fire Room (com Lasse Marhaug).
Apesar desta rede infindável, a procura de uma expressão mais simbiótica levou-os a encetar em 2002 um duo cujo fértil percurso tem sido documentado na sempre respeitável Smalltown Supersound. Vandermark e Nilssen-Love enredam-se numa high energy gloriosamente insolvível, onde o fogo do improviso enfrenta a crueza da realidade sem receios de erigir padrões tonais em linha oblíqua. Música nascida de uma espontaneidade alimentada pela precisão e coragem dos seus criadores, num rastreio que corta com o supérfluo e se atira com toda a convicção ao desconhecido.
Originário de Chicago, Ken Vandemark tem sido uma das pedras basilares para a construção da riquíssima identidade musical dessa cidade, através de projectos tão meritórios como Vandermark 5, Spaceways Inc. ou DKV Trio. Soprador com escola e coração, tem criado uma linguagem assente de enorme riqueza tímbrica, capaz de tecer linhas melódicas de pendor clássico que se transmutam num fraseado bruto e cruel num mesmo fôlego. Baterista incansável e dono da PNL Records, Nilsen-Love tem sido uma figura quase análoga a Vandermark no que diz respeito ao contributo para herança da música norueguesa. Assomo de criatividade, surgido na linha de exploradores como Paul Lytton ou Tony Oxley, Nilsen-Love tem vindo a laminar um campo lexical sempre surpreendente, capaz de suster as noções mais amplas de ritmo, textura e dinâmica num limbo constante de fulgor e precisão quase inimagináveis. BS