Quem for à Internet em busca de informações sobre os Kikagaku Moyo, encontrará, claro, uma página no Facebook, mas nem uma recensão nas páginas das “grandes” publicações digitais. É caso para dizer que ainda há bandas misteriosas, mesmo que por razões mais ou menos alheias à vontade dos músicos. Admita-se aqui algum exagero. No YouTube, estão discos e canções e, num blog discreto, pode ler-se uma entrevista em que o quinteto japonês se dá a conhecer. Mas o mundo dos Kikagaku Moyo parece alheio às maravilhas das redes sociais, mais próximo do universo dos fanzines e de festivais “amadores” como o saudoso Terrascope.
Pressente-se, também, uma relação mais intensa e genuína, com a música que ouvem e fazem. Uma continuação elegantíssima do melhor rock psicadélico, com menções gentis ao krautrock e um talento assombroso para alternar melodias femininas com riffs endiabrados. De onde vem esse equilíbrio? De muitos anos de estrada, muitos concertos, de uma dedicação intensa à música. De um compromisso livre.
É fácil falar de referências. Bardo Pond, Blue Cheer, Crazy Horse, Soft Machine e até de Sonic Youth, Juana Molina, The Doors ou Shocking Blue. Os Kikagaku Moyo, no entanto, não precisam de muletas. Existem a compasso destes nomes, quando não os ultrapassam. A facilidade com que compõem canções, tecendo aos ritmos da bateria, os glissandos do sítar, a alegria com que celebram cada ritmo ou arranjo e a imprevisibilidade sensata com que tocam os instrumentos, fazem deles a melhor banda japonesa desta década. Quem duvidar, escute as cinco faixas do EP homónimo. Nem um segundo de redundância, apenas grande música que dá prazer ao corpo e ao cérebro. Ter um concerto dos Kikagaku Moyo hoje, nesta noite, é um privilégio. Que não o percam. JM