Referência maior no panorama musical paulista, Kiko Dinucci apresenta já um invejável percurso, merecedor de curiosidade e encontro. Fundou bandas como Metá Metá ou Passo Torto e transformou a face da MPB com um entendimento muito peculiar em redor do samba e das suas novas expressões. Uma visão algo natural para quem na década de 90 mergulhou no punk e, mais adiante, nas artes plásticas e ainda no cinema. No fundo, falamos de um explorador nato, alguém que une a tradição à vanguarda – como poucos na sua geração. A espontaneidade das suas composições tornam-as imediatamente apetecíveis e simultaneamente enigmáticas. Natureza claramente popular, mas aberta ao contágio da urbe. Uma linguagem criada ao longo de anos e retocada com colaborações estelares como as que teve com Elza Soares, Tom Zé ou Jards Macalé, entre tantos outros.
Rastilho é um daqueles discos capaz de pegar fogo – e soltar pombas de uma cartola. Traz uma força telúrica constante, nas cordas e nas vozes; histórias do imaginário popular invocadas num desprendido xamanismo. Equilibrado entre o folk mais psicadélico e o samba mais doce, Dinucci assina um retrato apaixonado de um Brasil de selva, poesia e mito. Já este ano VHS é outro capítulo, inesperado, do trabalho deste músico sem fronteiras: uma única e longa faixa à base de colagens sonoras e improvisação livre. Uma peça singular que o volta distinguir pela bravura e noção de caminho.
Uma noite que será uma lição de reinvenção e descoberta. infinita. NA