“I consider myself a storyteller”. O sample no arranque de Heaven is For Real já diz muito de Kirk Knight, menino prodígio da família Pro Era que tem em Joey Bada$$ o filho pródigo. As histórias que semeou em Late Knight Special, o álbum de estreia que ofereceu ao mundo no último trimestre de 2015, chegaram para fazer o seu sinal surgir nítido nos radares que captam as melhores movimentações no complexo mapa do hip hop contemporâneo. O recorte estético do seu álbum coloca-o em firme terreno boom bap, com as suas palavras e flows seguros a evoluirem por cima de beats pontuados por jazz espiritual, com muitas cordas a embalarem em tons de sonho as palavras que debita com enorme classe e segurança.
Kirk Knight, que o bilhete de identidade revela ser Kirian Labarrie, nascido em Abril de 1995, começou por dar nas vistas, ainda adolescente, a produzir para Joey Bada$$ sendo dele beats de temas como Big Dusty ou Hazeus View. Natural de Nova Iorque, mais concretamente de Brooklyn, Kirk é, atrás da máquina, dono de um estilo muito próprio e distinto que por um lado abraça a tradição e assume a influência de faróis criativos como J Dilla ou Madlib, mas por outro olha para a frente e para as infinitas possibilidades sonoras abertas pelo universo da internet e pelo que gente como Kanye West tem forçado o planeta hip hop a considerar. Pelo meio, entre a devoção à tradição e a busca de algo novo, tem-se definido a sua personalidade. Late Knight Special, sabemo-lo agora, é apenas um primeiro e mais visível passo num percurso que vai seguramente ser longo e fértil. E depois há outra dimensão: no estúdio, atrás da MPC ou à frente do microfone, Kirk Knight desfila classe e segurança, elegância e solidez, mas em palco tudo se transforma e, como os melhores mestres jazz, Kirk tem demonstrado saber domar o momento à sua própria respiração. Em entrevista recente, Knight explicou qual era o seu espaço e o da sua música: “Isto é para as pessoas que trabalham duro e não têm quem olhe por elas”. Para nós, portanto. É o que se vai testemunhar na ZDB. RMA
Este concerto é uma colaboração ZDB e Versus.