No dia 27 de Maio, a Galeria Zé dos Bois inaugura La Révolution R.S.V.P., a primeira exposição individual de Pablo Echaurren, em Lisboa. A exposição tem como objectivo dar a conhecer a prática multifacetada do artista, especialmente a relacionada com os movimentos de contracultura em Itália nos anos 70, ao público português e internacional.
La Révolution R.S.V.P. reúne uma vasta selecção de trabalhos sobre papel – desenhos, colagens, fanzines – e outros – pinturas, assemblages, dioramas – do arquivo do artista em Roma, alguns dos quais são aqui apresentados publicamente pela primeira vez.
Um dos núcleos importantes na exposição é representado pelas obras de Echaurren de 1977-78, que corresponde ao período em que decidiu abandonar a sua carreira nas “artes” para servir no grupo dos “Indiani Metropolitani” – corrente criativa do movimento político de 1977 em Itália – em que o nome do artista se dissolve na dimensão colectiva e comprometida.
Criador de fanzines como Oask?! e Il complotto di Zurigo, onde afirma o seu signo, que mistura ilustração e escrita, citação culta e incursões pop em nome da ironia e do gosto pelo absurdo – visando uma desencantada e irónica visão da realidade – estendendo-se às capas dos livros, às fanzines, aos jornais como Lotta Continua, graffiti, romances gráficos e em centenas de cartazes.
A selecção de trabalhos de Echaurren apresentada na ZDB irá destacar o processo específico e intrigante de se inspirar na alta cultura oficial e de a traduzir para uma linguagem quotidiana, distorcendo-a de forma provocadora e escandalosa, através de um uso sofisticado do paradoxo e do humor.
A exposição ultrapassa a década de 1970 de modo a contar o complexo percurso artístico de Pablo Echaurren, desde os seus inícios, em 1969-70, com desenhos a tinta da china que emulavam a linguagem miniatural de Baruchello, até às suas mais recentes assemblages inspiradas nas novas descobertas sobre os Neandertais, passando por telas, colagens e papéis pintados datados entre 1980 e 2000.
De entre estes temas-chave estão: o manifesto poético do futurista “Parole in Libertà”, o pensamento de Marcel Duchamp, as Máquinas Celibatárias de Picabia, a hibridação de códigos, registos e campos semânticos, o fascínio pela pré-história, a deriva situacionista e o sentimento de estranheza, a transformação da linguagem como processo alquímico, a revolução da comunicação, a crítica da monetização da arte.
É a esta revolução “suave” que se refere o convite do título, La Révolution R.S.V.P., dirigido a todos nós. Um convite a pensar contra a corrente, fora da caixa e a aguçar o espírito crítico, que transparece de uma obra que se mantém actual e que recorre a um sentimento de estranheza, questionando ironicamente qualquer afirmação.
A exposição será acompanhada por um programa de projecções de filmes e documentários, com curadoria de Luciana Fina. A programação completa será anunciada em breve.
Projecto apoiado pelo Italian Council (11.ª edição, 2022), o programa destinado a apoiar a arte contemporânea no mundo, promovido pela Direcção-Geral da Criatividade Contemporânea do Ministério da Cultura Italiano.