Poeta, artista plástico e guitarrista honorário dos Sonic Youth, a vida e obra de Ranaldo é quase tão rica quanto a que levou durante décadas com a banda fundada por Thurston Moore. Na aurora da década de 80, integrou a orquestra de guitarras conduzida pelo mestre Glenn Branca enquanto marcou presença numa série de bandas e projectos tão fugazes como obscuros. Já no seio de um dos grupos que viria a mudar a face do rock nos anos seguintes, foram surgindo álbuns a solo, publicações escritas e uma torrente de colaborações além da vertente musical. A si parece terem sido entregues alguns dos momentos simultânemente mais radiosos e angustiantes do colectivo (‘Mote’ ou ‘Wish Fulfillment’), sendo prestação vocal de Ranaldo aquela que mais se aproximava do formato cancioneiro.
Coincidência ou não, os seus últimos discos ‘Between the Times & The Tides’ e Last Night On Earth’ voltam a colocá-lo nessa posição de contador de estórias, num registo descomprometido e no entanto familiar ao ouvido. As melodias pouco usuais planam pelos contos ora mundanos, ora fantásticos, que cedem descolagem aos solos luminosos que o próprio tão bem patenteou junto de várias gerações. Ao lado de Steve Shelley (o ritmo dos Sonic Youth), acrescentou as cordas de Alan Licht e Tim Lüntzel formando consigo os The Dust, banda que o acompanhou na sua última digressão.
Nesta vinda a Lisboa, e integrada no plano de celebração dos vinte anos da ZDB, o músico apresenta-se num formato especial, estritamente acústico. A Igreja de St. Georges acolhe assim uma parcela histórica do rock contemporâneo numa noite ainda com surpresas reservadas. NA