Mente de desígnios labirínticos e continuamente devotos à música enquanto fenómeno insondável e transcendente, Robert A.A. Lowe chega a 2013 com a devida notoriedade de quem durante anos trilhou o seu próprio caminho alheio a quaisquer fenómenos sazonais. Gente de respeito, ao qual se poderia colar o epíteto de ‘culto’ não fosse esse termo não fazer grande sentido nos dias de hoje. Após a militância nos não-bem-post-rockers 90 Day Men, Lowe embrenhou-se na torrente anímica do psicadelismo, e por lá tem permanecido ao longo destes últimos anos, reinventando-se a si próprio com a visão periférica dos incansáveis. Nos seus primeiros trabalhos a solo sob o pseudónimo de Lichens recorreu à sua própria voz enquanto veículo primordial para a elevação, através de ondas que se iam dispondo num fluxo beatífico pautadas por notas esparsas de piano e guitarra. Algo já comprovado in loco no espaço da ZDB e registado para a posteridade nos discos que gravou para a mítica Kranky – “Omns” e “Psychic Nature of Being” – ou no mais recente “Lítiõ Fólk”. Essa dimensão litúrgica, que em Lichens encontrava uma espécie de espírito ancestral em Laraaji, tem vindo a encontrar novas formas de expressão não apenas através das suas colaborações com nomes como Rose Lazar, White/Light e de forma mais visível com os Om – com quem esteve presente na memorável passagem destes por este palco – mas com o seu trabalho em nome mais ou menos próprio. O celebrado ‘Timon Irmok Manta’ editado o ano passado pela ilustre Type, acrescenta novas peças a este fascinante mosaico, num mantra de sintetizadores, ritmos e vozes que é quase dub, quase kraut – via Cluster/Harmonia -, quase Rhythm & Sound, quase chill sem nunca o ser e a inventar todo um universo em si mesmo. Tão telúrico quanto espacial. Tão hipnótico quanto intrigante. Mas sempre apaixonante. BS
