A era da Informação. Ninguém como Lil B tem entendido esta realidade; não como fenómeno social, mas como vigoroso método de trabalho e até como extensão natural da sua persona. Uma omnipresença na web que se traduz em centenas de plataformas online geridas por si e por uma incontável quantidade de material disponibilizado gratuitamente. Das ruas para os espaços virtuais, o rap mudou de palco e também tem vindo a mudar de identidade. Não perdeu essência nem ganhou irreverência, contudo tem vindo a transformar-se. Aos 22 anos, ‘The Based God’ – como o próprio gosta de se apelidar-, quebra paradigmas e inverte regras numa realidade que tem Jay-Z e Kanye West como patrões máximos. Longe da consensualidade, até no seio do hip hop, Lil B aborda todo o manancial de referências do gangsta rap seguindo a sagrada trilogia mulheres, armas e festas com a mesma naturalidade que se envolve numa consciência pessoal de contornos new age. É pois uma figura de complexa definição, quase de existência paradoxal. São margens aparentemente antagónicas que desafiam os estereótipos de um movimento, sem no entanto os anular. Uma coabitação só possível para quem não reconhece fronteiras ao seu trabalho e absorve a herança de Nas ou Wu-Tang Clan em paralelo com os Boards Of Canada ou Emeralds. Quando há dois anos editou ‘Rain In England’, poucos seriam aqueles capazes de imaginar um álbum de rap cujo beat fora substituído por melodias de sintetizadores perdidos no espaço. Uma peça essencial no rap contemporâneo? Sem dúvida. Aliás, tão essencial quanto desconhecido. Recentemente capa da revista The Wire, Lil B tem demonstrado ser um sério caso de estudo. Por tudo o que acima foi referido, pela enorme legião de fans que tem criado a partir dessa lógica essencialmente Do It Yourself e pelos concertos memoráveis (já considerados autênticos happenings). Só o futuro dirá qual a repercussão do legado deste miúdo, mas no meio da incerteza, paira um dado adquirido: dificilmente haverá, neste momento, alguém tão urgente a passar por este Portugal a precisar de um valente abanão. E as razões – mais uma vez – estão aí, à distância de um clique. NA
