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Concertos

Lolina ⟡ Polido

qua11.09.1922:00
Galeria Zé dos Bois


Lolina

Chegados a esta segunda metade de 2019 não precisamos mais de incorrer na sacramentalização do passado enevoado nos Hype Williams para falar de Alina Astrova. ‘Black Is Beautiful’ de 2011 a meias com Dean Blunt demarcou bem o seu papel com a pele de Inga Copeland que serviria para assinar um par de 12″, colaborações com John T. Gast, o EP ‘Don’t Look Back, That’s Not Where You’re Going’ e o álbum ‘Because I’m Worth It’ – título passível de ser visto como statement pós-Hype Williams a calar haters. Não que tal fosse necessário, quando a música foi dissipando a poeira narcótica que abatia as batidas, os sintetizadores e a voz de Alina para se revelar num conjunto de canções laminadas com a ajuda de nomes como Actress ou Martyn por entre o industrial de deriva post-punk, o espaço alucinatório do dub, a cultura sound system muito UK e a synth pop herdada da cold wave e das transmissões rádio emitidas atrás da cortina de ferro.

Encerrada essa vida com a auto-edição do já citado ‘Because I’m Worth It’, Alina torna-se Lolina e mantendo essa linha de controlo absoluto tem vindo a traçar um work in progress sem grande pompa mas com toda a propriedade através de edições no Bandcamp, em CD ou em 12″ de tiragem curta. De uma intuição, para já, impossível de mapear dignamente, Lolina vai atirando pontos cardeais que passam pela paranóia urbana de inspiração UK Bass de ‘Lolita’, pelas canções conduzidas a órgão e batidas rafeiras de ‘The Smoke’ ou pela adopção da cartografia do Monopólio enquanto reflexo da sua situação de emigrante em ilhas Britânicas na performance ‘Live In Paris’ para RBMA. Já este ano, ‘Who Is Experimental Music?’ deixa no ar essa premente questão, num conjunto de experiências – está dito – que nada fazem para elucidar os seus instintos e reduzem tropes de experimentalismo à sua condição mais básica – ‘Skipping’, ‘Glitching’ ou ‘Strobbing’ – em algo que tanto pode ser trollanço quanto procura genuína. Ficamos sem saber, mas deste nosso desnorte vem a impressão forte de que este concerto marca nova movida de Lolina. Há que estar lá para o saber. BS

Polido

Regresso sempre pertinente de Polido ao Aquário onde gravou em Dezembro do ano passado o concerto que se viria a materializar em ‘Free Music/Música Livre’, edição que faz jus ao nome lançada no Bandcamp e numa edição limitada em CDR distribuída em mão pelo próprio. Acto bonito. Música livre que não só se reflecte na distribuição da mesma, mas também nas directrizes que informam a música de Polido. À falta de um registo recente mais “oficial” e sabendo nós que o próprio tem passado tempo em estúdio a magicar isso, somos felizes por poder ir acompanhando as suas movimentações em proximidade, enquanto vai fazendo a sua vida em Berlim, e com ‘Água ao Moinho’ e ‘Time Is When’ a soarem ainda tão chamativos como quando os ouvimos pela primeira vez.

De uma possível trajectória, nota-se em Polido que a depuração está cada vez mais ligada ao próprio processo de composição. A colagem elegante que ainda assim incorre numa disrupção de ideias, memórias, projecções capaz de fluir sem cair na velocidade cruzeiro escorreita – porque aceita o silêncio e a tensão como parte disso mesmo. Cada pedaço de som a assumir a sua valência e lugar próprio num mosaico que não é propriamente sound design – como fez recentemente para a banda sonora de ‘A Casa e os Cães’ que passou recentemente na ZDB – mas reconhece a importância do Som enquanto matéria, tempo e espaço. Existe música, em ritmos – percussão acústica e processada, gravações de campo alinhadas – e harmonia – guitarras, pianos, detinações de baixo e sons indefiníveis. E na sugestão dos mesmos. Tudo importa. BS

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