Quem viu os Loosers na Galeria Zé dos Bois em 2004 assistiu a um dos melhores concertos não apenas do espaço lisboeta, mas da história da pop-rock em Portugal. Não foi uma exibição de virtuosismos, nem um exemplo, sequer modesto, de showmanship, mas antes um breve e intenso momento de comunhão. Nessa noite, os músicos confundiram-se com a audiência. Não havia palco ou lugares marcados, a banda limitou-se a ligar os instrumentos e a tocar. E de um momento para outro, a festa começou. Nessa noite, os Loosers atingiram um zénite artístico e desfizeram o equívoco que os associava ao revivalismo do pós-punk. Emulavam os Liars? Não, a banda então liderada por Tiago Miranda afirmava-se, simplesmente, como uma entidade incerta, mutável que não se subordinava a contextos (o concerto) ou a formatos (o disco). Era uma aventura guiada pelas circunstâncias e os interesses confessados dos seus membros. Ainda assim, e como esse e outros espectáculos comprovaram, o epíteto de banda ao vivo sempre lhes assentou bem. Todos os trabalhos que editaram retratam uma actuação, uma performance, uma exploração sem fim..
Com um novo disco, “Hot Jesus” e um novo elenco (Jerry the Cat, na voz, Rui Dâmaso na guitarra, João Maio Pinto no baixo, e José Miguel Rodrigues na bateria e nos sintetizadores), os Loosers revisitam e resgatam encontros, inspirações, experiências e até as memórias de outros músicos. Está tudo aqui: a paixão generosa pelo rock, pelo groove, pela dança, o gosto pela experimentação, a recusa de formas, tempos e geometrias pré-definidas. Em cada canção encontramos, sublimada, a liberdade que sempre caracterizou a banda. Sim, são canções, porventura como nunca fizeram, onde não faltam devaneios cósmicos, activismo político e cultural, vozes sedutoras e ritmos tribais. Assim descrito, ‘Hot Jesus’ promete os Loosers habituais, os que conhecemos desde 2000. Mas esta noite não haverá Déjà vu. Será um renascimento. JM
