Senhora de uma presença e música tão intangíveis quanto telúricas, Lula Pena tem trabalhado com a calma dos abençoados e a paciência dos dias uma obra única, em contracorrente com qualquer noção de carreirismo. Ao ritmo de uma canção por ano, Pena tem levantado uma aura muito sua, reflexo de uma música que convoca o fado, a bossanova ou o tango mas transcende cartografias e tropes de género, para suster essas referências numa dimensão pan-global, onde uma guitarra e aquela voz assombrosa são meios para a crença e a revelação. Tendo-se estreado com o já mítico ‘Phados’ em 1998, reapareceu após resguardo solitário em 2010 com o deslumbrante ‘Troubadour’ e novamente em 2017 com ‘Archivo Pittoresco’ com edição da muito respeitável e sempre atenta Crammed Discs. Tudo a seu tempo, sempre.
Num encontro algo inusitado, Lula Pena abarca o seu centro gravitacional à obra de João Simões – e vice-versa. Artista nascido em Luanda e já com largo trajecto por entre a instalação ou o vídeo e cujo trabalho tem sido amplamente discutido e elogiado por inúmeras publicações e críticos. Tendo já exposto em inúmeros espaços de respeito, foi também professor convidado e conferencista em diversas escolas conceituadas, deste e do outro lado do Atlântico. Figura muito própria, de matéria idiossincrática. Requisito para um tag team que nos deixa particularmente expectantes por todas as suas possibilidades. BS