A história por detrás de Lust For Youth não deixa de ser igual a tantas outras: um jovem entusiasta certo dia pega nos poucos recursos que detém e decide exteriorizar os esboços sonoros que pairam na sua mente. Pelo caminho, recorre à ajuda preciosa de um amigo produtor, reúne algum equipamento emprestado e eventualmente acaba por gravar meia dúzia de faixas que mais tarde são editadas por uma label local. Parece mundano, romanticamente mundano – e ainda bem que assim o é. Ora o sueco Hannes Norrvide picou cada ponto deste roteiro, encontrando entretanto pousio numa das editoras mais indispensáveis dos últimos tempos. Sob o signo da Sacred Bones, o músico não apenas viu editados seis celebrados discos como passou a figurar numa imensa e nobre família, lado a lado de astros como Amen Dunes, The Men, Moon Duo, Destruction Unit ou David Lynch.
Convenientemente, a origem pop das suas canções nunca se cerraram nessa simples condição, optando desde logo pelo aproveitamento dos destroços punk e do pulsar electrónico que circundavam a sua genérica, complementando-a. O comando humano no centro, diante de um sintetizador e de uma drum machine; por outras palavras, os alicerces da synth-pop tal o passado nos deu a conhecer e o presente ainda nos mantém. E se a formação hiper-minimalista segue essa facção, também a própria atmosfera de Lust For Youth retira frutos dos tons melancólicos e inebriantes, sempre a meia luz e ocasionalmente com rasgos de lasers coloridos, próximos da escola Fad Gadget ou Chris and Cosey. Foi assim durante o período dos álbuns ‘Solar Flare’ e ‘Growing Seeds’ e continuando, de forma mais dissimulada, nos seguintes ‘Chasing the Light’ e ‘Perfect View’.
A grande mudança veio com o recente International, nas lojas há apenas escassos meses. Oficialmente trio, o renovado espírito de Lust For Youth (agora mais ‘banda’ do que nunca) traz uma leve ruptura com o que até aqui seria já um eco registado. A maior e propositada polidez das canções revelam traços melódicos sem máscaras enquanto a parte rítmica cumpre o imediato papel sedutor. Por sua vez, a inclusão de instrumentos inéditos como a guitarra abre um portal de novas possibilidades e novas identidades para as projecções pessoais de Norrvide. Para já, uma das metamorfoses pop do ano. NA