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Má Estrela

— ZDB na Casa da Cultura de Setúbal

sáb09.09.2321:30


©Austeja Sciavinskaite
© Pedro Alves Sousa e Simão Simões
© Pedro Alves Sousa

Antes de se afirmar como um dos mais abrasivos saxofonistas de free jazz/música livre em Portugal, Pedro Alves Sousa esteve envolvido com a música eletrónica exploratória mais vanguardista, usando samplers e guitarra eléctrica no trio OTO. Esses dois lados são inesperadamente combinados neste novo “Má Estrela”, a sua visão muito pessoal das estratégias de gravação/processamento dub, alargadas a dimensões psicadélicas e alimentadas com um sentimento tribal, muito sombrio e onírico, parte DJ Screw, parte Pole, parte Porter Ricks, parte Steve Lehman (especialmente, o octeto de jazz espetral do saxofonista de Nova Iorque). Para este feito alucinante, amplificou o saxofone através de amplificadores de guitarra e baixo e uma pedaleira de efeitos, e – à exceção do baterista Gabriel Ferrandini (Red Trio, Rodrigo Amado Motion Trio), o seu mais frequente companheiro de música – pediu a companhia de músicos saídos do campo do jazz: os electronicistas Bruno Silva e Simão Simões introduzem os recursos do post-soul e do footwork e o baixista Miguel Abras a atitude punk/industrial. O resultado final é uma espécie de jazz ambiente com metodologias reggae e polirritmias dançantes que não se podem dançar, pesado, lento, depressivo (o que esperar destes tempos de pandemia de ficção científica tornada realidade?), e catártico. Mesmo dentro das sombras é possível encontrar esperança.

Uma reunião convocada por Pedro Alves Sousa em 2021, Má Estrela é uma estrela de cinco pontas composta por figuras vindas de diferentes ângulos da música mais distante de Portugal, mas cujas ligações entre si são profundas – Bruno Silva e Simão Simões na eletrónica, Gabriel Ferrandini na bateria e eletrónica, Miguel Abras no baixo e o próprio Sousa no saxofone e eletrónica. Já um elemento da ativa cena portuguesa, a visão de Sousa para os Má Estrela visa ligar vertentes desviantes do dub, footwork, jungle, ambient ou jazz num fluxo mutável que nunca se fixa em nenhum tipo de tropos estabelecidos. Lançaram a sua alucinante estreia auto-intitulada através de uma joint venture entre a Sshpuma e a Casa Futuro no início de 2022. BS

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