Mammane Sani Abdoulaye terá sido a primeira pessoa no Níger a ter um sintetizador. Isso deu-lhe uns anos valentes de avanço – em todos os sentidos. Abdoulaye não está apenas noutro patamar; está noutro planeta. Uma quase-celebridade no Níger e, pelo menos até recentemente, um absoluto desconhecido fora dele, Abdoulaye editou o seu primeiro e único álbum em 1978. “La Musique Electronique Du Niger”, reeditado este ano depois de descoberta por acaso uma das pouquíssimas cassetes que ainda andavam por aí, é uma pérola electrónica sem grandes pontos de contacto com o que acontecia na altura, havia acontecido antes ou veio a acontecer depois. Por vezes pensamos estar a ouvir música dos primeiros jogos Spectrum, mas essa simplicidade é ilusória: a música tem muita alma lá dentro, abre caminho por entre um nevoeiro luminoso e segue rio Níger fora até desaguar lá onde o abalo é maior. Apenas aparentemente deslocadas do imaginário africano, as composições de Abdoulaye revisitam a partir de fora os diversos folclores étnicos que o rodeiam. A relação entre sintetizador e caixa de ritmos chega em dunas, com padrões cíclicos que a ouvidos ocidentais lembram por vezes os alemães Monoton ou, se a noite já for longa, os Suicide. Olha-se, e não há tecto por cima da música de Mammane Sani Abdoulaye. MP