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Mannequin Pussy ⟡ Veenho [CANCELADO]

dom19.11.2322:00
Galeria Zé do Bois


Mannequin Pussy © CJ Harvey
Veenho ©Xipipa

Mannequin Pussy

A história de 2023 ainda se escreve ao sabor da pandemia e de como afectou o ritmo de certas bandas. Veja-se uma banda como Mannequin Pussy, depois de anos a criar com a lentidão DIY uma comunidade de fãs, primeiro nos Estados Unidos e depois pelo resto do mundo, em 2019 explodem com um óptimo álbum na Epitaph (“Patience”) e galopam para palcos maiores num piscar de olhos. Os grandes festivais norte-americanos queriam que tocassem lá, obrigaram-se a tocar mais do que esperavam, uma boa notícia para a banda, uma vez que parte da explosão criativa provem da performance e do relacionamento com os seus fãs ao vivo. Aconteceu o que se sabe, planos cancelados e a confirmação de (boa) vida após “Patience” existe pela necessidade de meter algo cá para fora, o EP “Perfect” que saiu em 2021. Em 2023 os palcos voltam a estar preparados para Mannequin Pussy. Bem como a promessa de um novo álbum.

Formados em 2010, em Filadélfia, começaram como duo, Marisa Dabice e Athanasius Paul. A formação foi mudando gradualmente ao longo do tempo, em “Patience” estavam sólidos em modo quarteto, mas “Perfect” foi o ponto final para Athanasius, que saiu da banda por motivos pessoais. Hoje existem enquanto trio formado por Dabice, Kaleen Reading e Colins Regisford. Intensos ao vivo, são uma versão actualizada do modelo Pixies / Breeders, com uma vocalista que age com a pujança, linguagem e direcção de quem sabe fazer viajar a sua experiência pessoal para uma geração que ainda precisa de punk-pop e hinos frescos e imediatos. E eles são muitos: “Drunk II”, “Who You Are”, “Control”, “Clams”, “Perfect”, “Romantic” ou “Denial”. Os Mannequin Pussy em 2023 estarão possessos com canções novas e, muito provavelmente, com o tanque cheio para darem os concertos – e a insatisfação – que lhes foi tirada na promoção de “Patience”, o álbum que os colocou onde estão hoje. AS

Veenho

A primeira vez que ouvi a música dos VEENHO fui tomado de imediato por um enorme entusiasmo. Logo na primeira audição, senti que era evidente estar a escutar um grupo de amigos que partilham uma clara visão da música que desejam produzir juntos. Sem rodeios, vão direto ao assunto, não sobrecarregando as suas melodias com os pretensiosismos tão comuns na sua cena musical atual. O resultado é brutalmente cru, sincero e honesto.

Neste novo álbum, o entusiasmo mantém-se, com pulso latejante. No entanto, agora é percetível que a banda aperfeiçoou a sua habilidade de se focar com uma maior determinação na direção que deseja seguir. É possível ouvir um jogo de dicotomias entre a catarse da exteriorização e a introspeção necessária para chegar às conclusões que resultam neste conjunto de canções. Apesar de estarem apenas a fazer o que lhes apetece, têm a destreza de ao mesmo tempo honrar o legado dos antepassados do rock alternativo que abriram as portas para a nossa sensibilidade contemporânea.

Se olharmos para há dez anos, na história do indie rock olisiponense, certamente desejaríamos que as bandas dessa época tivessem tido a possibilidade de soar desta forma, num lugar onde distorção e clareza podem coexistir. É notória a atenção ao timbre de cada instrumento neste trabalho de estúdio. Todas as texturas importam, e se há momentos com elementos de baixa fidelidade, sentimos a sua intencionalidade, ou seja, não é apenas um artifício para mascarar incapacidade ou preguiça — pelo contrário, é uma mais-valia.

A banda consegue combinar riffs de guitarra que nos fazem sentir vontade de cantar enquanto agitamos a cabeça ao som da secção rítmica galopante. Ao mesmo tempo, somos confrontados com diversas questões que nos fazem debruçar sobre a clivagem que existe entre o ponto mais profundo da nossa hipersensibilidade até à superfície da nossa hipossensibilidade coletiva, como podemos observar em faixas como “Meio Ausente” ou “Nunca Arrumo Habilidade Para Desabafar”. A habilidade da banda em criar imagens sonoras é verdadeiramente louvável. A instrumentação materializa as sensações que a música evoca, como em “Leather Cleaner”, que nos faz sentir a fisicalidade da volátil aceleração provocada por um sulfuroso vapor que se dissipa em menos de meio minuto. Ou em “Medo das Alturas”, em que as guitarras se tornam vertiginosas e desorientadoras, como se tivéssemos dentro do peito um medo inexplicavelmente impossível de controlar.

Este é um álbum de rock que apresenta tudo aquilo que esperamos deste género musical. Mas ainda é mais cativante por ser um conjunto de canções criadas a partir da perspetiva masculina sem ceder à toxicidade que geralmente lhe é associada, aceitando as suas fragilidades com dignidade. Como alguém que tem testemunhado as últimas duas décadas de selos independentes a editar rock em Lisboa, sinto-me profundamente orgulhoso por saber que nesta nova geração há uma maior maturidade que não se observava no passado, assim como uma capacidade de manter sempre interessante e renovar o brilho de um género musical que já foi tão explorado. (Alex D’Alva Teixeira)

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