Longe vão os tempos de “Holyday Motel”, o primeiro álbum de Marisa Anderson, onde caminhava em passos pequeninos para o mundo da guitarra. Ainda meio envergonhada, cantava. Havia um profundo sentimento country ao longo de todo o disco e dificilmente se adivinharia o percurso que se seguiria, sobretudo na década seguinte, depois de “The Golden Hour”. O seu registo mudou, abandonou a ideia de canção-country e entregou-se ao dever da guitarra, misturando tradição com composição contemporânea, explorando o que há de noise no blues – e vice-versa – e deveres do minimalismo no jazz. Na última década tornou-se numa referência na interpretação de guitarra. Ouvimo-la na sequência de outros grandes, seja John Fahey, Robbie Basho ou Jack Rose, Marisa Anderson criou novas narrativas para entender a presença do instrumento na história norte-americana.
A sua vinda à Casa da Cultura de Setúbal traz um novo álbum, “Still, Here”, o regresso às gravações a solo, na casa que tem acolhido os seus últimos trabalhos, a Thrill Jockey. É o quarto álbum em cinco anos, o primeiro a solo desde o muito elogiado “Cloud Corner” (2018), e das colaborações com Jim White (“The Quickening”, 2020) e William Tyler (“Lost Futures”, 2021). Sem descurar a tradição, nestes últimos registos Marisa Anderson consolidou a procura por outros elementos, através do uso de electrónica, experimentar com o drone e deixar-se ir por frases mais contemporâneas, próximas de um Steffen Basho-Junghans.