Aproximar a música de Marissa Nadler a uma categoria ou etiqueta é um exercício tentador que, no fim, se revela inútil. Autodidacta em termos musicais, formada em artes na Rhode Island School of Design (uma escola nada estranha à história da pop), Nadler vive e trabalha longe dos debates que actualmente agitam críticos e jornalistas. A razão desse distanciamento descobre-se evidente: o seu universo nasce de afinidades com melodias, vozes e frases que aludem aos anos 60 e 70 do século passado. Mas a artista não encena uma homenagem. O seu modo de fazer escapa a emulações e imitações, abre espaços, cria uma obra com meios tradicionais, aqueles que muitos dizem estar à beira da extinção.
A voz é o centro gravitacional da sua música, concede-lhe uma marca autoral que a torna singular, humana, e portanto, irredutível a definições. É etérea e, ao mesmo tempo, táctil (sente-se-lhe a respiração), encanta sem enfeitiçar. Aproxima-se e afasta-se sobre as notas do piano ou de um teclado libertando os sons dos instrumentos. As suas canções falam de paisagens, homens, acções, relações, formando pequenas vinhetas, por vezes agressivas, da América à beira da estrada, como as que preenchem “July “, editado este ano pela Sacred Bones. Marissa tem colaborado com nomes do black metal e há quem proponha, por isso, a sua filiação nesse universo. Mas neste concerto estará sozinha e, apesar da noite, as suas canções afastá-la-ão da obscuridade. Haverá luz.