Quantos poderão reclamar a sua quota parte no desenvolvimento da música contemporânea? O alemão Mark Ernestus é certamente um dos rostos que nas últimas décadas mais tem contribuído para não só criar comunidades e vincar circuitos, mas para ligar pontos perdidos entre geografias e épocas – projectando um futuro próximo. Enquanto fundador da mítica loja de discos Hard Wax, criou um pousio regular para djs, colecionadores e outros entusiastas. Com o duo Basic Channel, abriu horizontes ao deep techno com laivos dub, num registo absolutamente influente até aos dias de hoje. Houve ainda inspiração para formar os históricos Rhythm & Sound (ao lado de Moritz von Oswald) e nos anos mais recentes, embrenhar-se na música africana, em múltiplos projectos e colaborações. Muitas outras vidas aconteceram pelo meio. Todo um percurso que fala por si.
Ndagga Rhythm Force reforça a longa paixão de Ernestus pelo minimalismo e polirritmia. Quando em 2014 reuniu alguns dos melhores percussionistas do Senegal, enveredou sessões de estúdio conjuntas, resultando daí o projeto Jeri-Jeri. Fogo absoluto que anos depois deu espaço a este ensemble mais selecto, com que atualmente se encontra a apresentar. A comunicação que acontece nesta ponte cultural está longe das infinitas incursões de mero teor estilístico; talvez o que melhor distinga esta encarnação, é um sentimento mútuo de respeito e curiosidade, alicerçado a alguma experimentação e método. Qualidades essas que explicam assim a natureza profundamente orgânica desta energia coletiva. Mais que o alinhamento e esquadria de ritmos e melodias, cada detalhe parece tomar um papel e um momento cujas formas também se mutam. Exemplar no que se propõe, e como o torna possível, Ndagga Rhythm Force é um sonho eterno, agora concretizado. NA
