As pinturas de Joana da Conceição são fruto do interstício, que é outra forma de dizer que estão entre estados, entre territórios ou entre estatutos, e que fazem dessa condição a sua força motriz. Por exemplo: as suas pinturas ocupam um lugar entre a figuração e a abstracção e exploram esse espaço dúbio feito de coisas que se afiguram familiares, mas que dificilmente conseguimos nomear. Talvez seja porque nelas desfila um conjunto de motivos arquetípicos que assimilamos intuitivamente, mas cuja interacção encerra subtis enigmas; ou porque as camadas que sucessivamente se vão sobrepondo cancelam, uma e outra vez, tudo o que da ordem da representação lá possa existir… Por outro lado, estas telas estão entre a estaticidade da imagem que inevitavelmente são e a afirmação da pintura como acto performativo, como algo que regista o movimento de um corpo que pensa com e em pintura e que toma decisões como quem joga um jogo em que toda a acção é simultaneamente causa e consequência. Mas talvez mais importante ainda, os trabalhos de Joana da Conceição vogam entre a matriz doméstica da sua escala e da sua natureza intimista e o carácter universal dos seus temas e objectivos. Como se a matéria da pintura pudesse ser o veículo para a expressão de uma verdade cósmica, da ordem exótica e insondável dos fluxos do mundo paulatinamente revelada no recato do atelier.
Matéria Doméstica Exótica
— Joana da Conceição
Quarta a Sábado
das 18h às 22h00
Exposição de Joana da Conceição na ZDB
Joana da Conceição
Joana da Conceição nasceu em Rebordões em 1981. Vive e trabalha em Lisboa. Concluiu a Licenciatura em Artes Plásticas – Pintura em 2004, e o Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas em 2008, ambos pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Foi distinguida com o Prémio Anteciparte Millenium BCP (2005), viveu por um ano no Rio de Janeiro (2010-2011) trabalhando no Capacete Residências Artísticas com uma bolsa Inov-art e, de volta a Lisboa, participou nas Residências da ZDB (2011) e na Residência Artística Lagamas, promovida pela Cournelius Foundation (2013). Com André Abel fundou Tropa Macaca, duo de composição electrónica contemporânea. Das últimas apresentações do seu trabalho destacam-se: Síntese Radiante, Cinema Passos Manuel, Porto (2017); Corpo que Sabe, Galeria Carlos Carvalho, Lisboa (2015); Bora Puxar Atrás Para Ver Melhor, Museu Bernardo, Caldas da Rainha (2015); Vinde ver Pintura, Edifício Amparo, Lisboa (2015); #####, Uma Certa Falta de Coerência, Porto (2014).
das 18h às 22h00