As pinturas de Joana da Conceição são fruto do interstício, que é outra forma de dizer que estão entre estados, entre territórios ou entre estatutos, e que fazem dessa condição a sua força motriz. Por exemplo: as suas pinturas ocupam um lugar entre a figuração e a abstracção e exploram esse espaço dúbio feito de coisas que se afiguram familiares, mas que dificilmente conseguimos nomear. Talvez seja porque nelas desfila um conjunto de motivos arquetípicos que assimilamos intuitivamente, mas cuja interacção encerra subtis enigmas; ou porque as camadas que sucessivamente se vão sobrepondo cancelam, uma e outra vez, tudo o que da ordem da representação lá possa existir… Por outro lado, estas telas estão entre a estaticidade da imagem que inevitavelmente são e a afirmação da pintura como acto performativo, como algo que regista o movimento de um corpo que pensa com e em pintura e que toma decisões como quem joga um jogo em que toda a acção é simultaneamente causa e consequência. Mas talvez mais importante ainda, os trabalhos de Joana da Conceição vogam entre a matriz doméstica da sua escala e da sua natureza intimista e o carácter universal dos seus temas e objectivos. Como se a matéria da pintura pudesse ser o veículo para a expressão de uma verdade cósmica, da ordem exótica e insondável dos fluxos do mundo paulatinamente revelada no recato do atelier.
