É com entusiasmo que as portas da ZDB voltam abrir-se para mais uma matiné de verão. Quem esteve nas edições anteriores, terá sentido o carácter intimista, mas festivo, que têm vindo a caracterizar estes momentos que se assumem cada vez mais essenciais. A trupe estelar da Cafetra Records volta a dominar a casa por algumas horas e com dois convidados de honra absolutamente marcantes neste 2016.
Lourenço Crespo e Sallim acabam de editar dois notáveis registos discográficos que confirmam a frescura e originalidade que a editora tem vindo a oferecer à cena musical por cá. Jovens talentos com percursos diferentes, porém partilhando de uma linguagem sonora e lírica tão honesta quanto apaixonada. O primeiro é uma figura regular no catálogo da Fetra, assinalando presença nos magníficos Kimo Ameba, Iguanas, 100 Leio ou ainda colorindo as canções de Éme no papel de teclista. Aqui traz 9 Canções, o seu primeiro disco a solo, assente numa combinação vencedora de crónicas do dia-a-dia e uma noção pop artesanal e profundamente descomprometida. O resultado é uma identificação quase sempre imediata com o que é descrito, como uma partilha de vivências mundanas e observações espirituosas. Em suma, aquilo que a música pop deverá ter ambições a ser.
Mais atmosféricas e aquosas são as paisagens de Sallim que em março deste ano lança o álbum estreia Isula. Por lá encontramos um conjunto sólido de composições a voz e guitarras em reverb trazendo uma toada matinal, ora melancólica, ora onírica. Imagens em tons sépia tão bem captadas pela lente narrativa de Francisca Salema, numa banda sonora perfeita para o fim de umas longas férias de verão junto à costa – com as suas recordações, angústias, celebrações e anseios. Gravado e misturado pela força omnipresente de Leonardo Bindilatti e com os acréscimos extra da guitarra de Yan-Gant Y-Tan, Isula é um bom agouro do que aí ainda poderá vir.
Não sendo suficiente estas duas apresentações repletas de novidades, o fim da festa fica entregue às irmãs mais cool da cidade. Os dj sets de Pega Monstro têm sido escutados em diversos locais lisboetas e sempre com nota máxima. A receita parece simples e tem tudo a seu favor: diversão e ecletismo. Há espaço para o psicadelismo rock, para o calor de África ou para o transe digital do footwork ou trap rap. Esperar o inesperado é a única indicação possível num final de tarde imperdível e com convite aberto a amigos, desconhecidos ou meros curiosos. Dois últimos conselhos: tragam calçado confortável e apetite para devorar a pista pois ninguém esperará menos que isso. NA