Artista inquieto e estupidamente activo no centro de acção da música mais arriscada vinda do Egipto, Maurice Louca é ponto cardeal fundamental para cartografar uma comunidade bem povoada de mentes e corpos tão contestatários quanto inventivos. Desse terreno onde a história colide com um futuro, Louca recolhe matéria para uma música onde a tradição musical egípcia, free jazz, revisitações fusionistas à luz do post-rock de Chicago, minimalismo e notações harmónicas de diversas latitudes se vão encontrando e escapulindo continuamente numa música densa mas aberta a grandes espaços e ideias. Após uma muito, muito celebrada estreia com Salute the Parrot em 2014 pela plataforma da Nawa Recordings, cujo trabalho tem vindo a iluminar alguma da música mais desafiante do mundo árabe, teve os seus últimos álbuns – Elephantine de 2019 e Saet El Hazz (The Luck Hour) já este ano – lançados numa parceria entre duas editoras de história e peso nas músicas mais fora: Northern Spy e Sub Rosa, respeito. Dois álbuns ambiciosos, mas que nunca sucumbem perante a sua magnitude, enlaçam uma complexa rede de músicos, da voz de Nadah el Shazly ao violoncelo freeform de Anthea Caddy, dos libaneses A Trio ao oud de Natik Awayez numa projecção comunal onde diversas músicas e histórias s enredam num discurso fluído e panorâmico. Música que tanto poderia flutuar no cosmos da Brainfeeder como calcar a terra da Constellation – e Louca colaborou até Sam Shalabi para essa ligação não ser assim tão inusitada – mas que não pede meças a nada a não ser a si mesma, capaz de agremiar sem grandes conjecturas todo o tipo de gentes. BS
Maurice Louca ⟡ João Almeida
Por razões de força maior alheias à nossa sala, é com tristeza que damos conta do cancelamento deste concerto. Estamos a trabalhar no sentido de reagendar novo concerto para a primeira metade de 2022. O serviço de bilheteira BOL entrará em contacto com todos os detentores de bilhete. Muito obrigada pela compreensão.
João Almeida
Músico em franca ascensão nos passadiços da música improvisada, do jazz e da descoberta, João Almeida tem vindo a ser cada vez mais e mais reconhecido e requisitado, com boas razões. Trompetista com escola mas espírito livre para não se agarrar à matéria dada e balofa, Almeida vai-se orientando por entre contextos e formas com segurança e curiosidade, laminando um sopro cada vez mais capaz e seu, pleno de lirismo, harmonia, extended techniques e luz num discurso vivo e astuto. Do jazz dos Garfo às investidas fusionistas de Peachfuzz, do duo de trompete e voz LUMP a colaborações com gente como Rodrigo Amado ou Fred Lonber-Holm começa a ser difícil pensar numa cena jazz – e suas tangentes – sem o invocar. Não importa muito especular sobre o futuro como acompanhar este presente já bem rico. BS