Medo
Nesta palestra, duas pessoas, que manifestam um saber arquivista sobre medos, estão sentadas lado a lado para evocar medos passados presentes e futuros; autobiográficos ou não. Medos que se transformam em medos sociológicos, em manifestações do controlo político que é exercido sobre a sociedade, sobre as pessoas. A partir dos conflitos internos de cada performer constrói-se uma apresentação fragmentada com direito a pequenos actos de sarar que não pretendem mais do que transformar veneno em remédio.
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TENHO MEDO DE IR À SEGURANÇA SOCIAL
Tenho medo de ter dívidas enormes das quais não sei. Tenho medo de esperar infinitamente. Tenho medo de ligar para lá para marcar o meu lugar. Acho que só lá fui uma vez e gostava de nunca mais lá voltar. Tenho medo de assistir a cenas dramáticas e de pensar que não há nada que eu possa fazer. De pensar que a minha cena dramática acontecerá também, talvez só dentro do meu corpo. Que há milhões de pessoas em situações muito piores e que é absolutamente ridículo nascermos para isto, para sermos números e termos funções e para vivermos eternamente sob a tirania de um paizinho – de vários paizinhos – que nos fodam a torto e a direito. Prefiro pai nenhum a paizinhos destes e paizinhos daqueles.
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Feminismos
De forma nostálgica e pessoal evocam-se algumas das performances mais significativas para a arte da performance feminista, seguindo-se uma reflexão pessoal sobre a prática do feminismo nos dias de hoje. A palestra termina com a recriação de duas performances feministas do século XX.
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Perguntei-lhe o que é que ela achava sobre a emancipação das mulheres e ela respondeu-me que achava bem, depois perguntei-lhe o que é que ela achava sobre as mulheres poderem exercer a sua sexualidade sem tabus e ela respondeu-me que achava bem, depois perguntei-lhe o que é que ela achava sobre a violência doméstica e de esta estar a aumentar com a crise, sobretudo nos jovens e ela respondeu-me que achava mal, e finalmente perguntei-lhe o que é que ela achava sobre o papel das feministas na sociedade e ela respondeu-me que as feministas pensam muito nelas, que são muito egoístas.