De todas as protagonistas do ressurgimento da folk nos últimos dez anos, a americana Meg Baird é mais profícua e consistente. Com Greg Weeks, fundou os Espers (nome incontornável para a compreensão desse ressurgimento) e tem desde 2006 construído uma obra que concilia o respeito pelas formas clássicas da folk inglesa e americana com uma certa aura contemporânea. Reconhece-se sem dificuldades uma sonoridade (nos acordes das guitarras, na voz, no tempo das canções), ou a presença de certos fantasmas (Nick Drake, Trees, Fairport Convention), mas o pastoralismo desapareceu. No seu lugar, encontramos agora uma música centrada nos seus espaços, respirações, silêncios. Para lá de referências. Um género (associado a um espaço e tempo), agora feito linguagem. O principal instrumento de Baird continua a ser a voz, entre as melodias de Vashti Bunyan e a solenidade de Celia Humphris. Tal versatilidade já lhe valeu os convites de Bonny ‘Prince’ Billy, Kurt Vile e recentemente, Sharon Van Etten. Mas uma coisa é ouvi-la ao fundo (como acontece nos discos dos músicos em causa), a outra em primeiro plano, sobre as cordas da guitarra. É essa proeminência que se descobre no último álbum, “Season On Earth”, editado no ano passado pela Drag City: sem estar sozinha (conta com a colaboração da pedal steel-guitar de Marc Orleans), define gentilmente a fluidez dos sons, balança o contraste entre as notas, vigia sem pressa o movimento das canções. Esta é a sua folk, de uma leveza intensa, que embora enraizada no nosso tempo (escutem “Song For Next Summer), não receie confrontar-se com a história da cultura pop. As palavras que canta em “Friends”, versão do tema da Mark-Almond Band que podia perfeitamente integrar “Milestones” (o filme de Robert Kramer), ou o modo como transfigura “Beatles and The Stones” (outra versão, desta vez dos ingleses House of Love), atestam a ousadia. Que nesta noite merece ser testemunhada e celebrada. JM
Meg Baird ⟡ Mandrax Icon
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Márcio da Cunha aka MANDRAX ICON apresenta o seu disco de estreia ‘Mary Climbed The Ladder For The Sun’ – colecção de 10 canções por entre o blues mais árido de Leo Kottke, o desassossego de Bill Callahan ou a terra seca de Dylan Carson.