Se existe algo que caracterize a obra de Baird é a sua acção constante, traduzida numa obra extensa e multifacetada. No decurso da década anterior, quando a herança da folk, no seu espectro mais primitivo, inspirou novas encarnações e reinterpretações, ela teve um papel determinante no cenário. Foi com a sua banda Espers que a cantora e compositora norte-americana, actualmente a residir em São Francisco, originou um dos mais estimulantes amores no género, num prisma contemporâneo. A comunhão entre a névoa da electricidade e o sagrado da música nativa do continente, foi então retratada com uma sensibilidade quase barroca. Por outro lado, muito do seu percurso tem sido feito por colaborações, numa honesta e frutífera troca de linguagens e experiências artísticas. Ao longo dos últimos anos foi partilhando palco com Bert Jansch, Michael Chapman ou Jack Rose, interligando-se com tantos outros intervenientes e de tão amplos horizontes (chegando mesmo a tomar a posição de baterista na banda punk Watery Love). Este apreço pelo território de ninguém ou pela forma de livre de se entregar a diferentes áreas musicais, naturalmente fortificou a sua escrita. Don’t Weight Down the Light, foi a última oferenda cósmica reunindo um conjunto de escapes sonoros intemporais. Já este ano, a Three Lobed Records prepara nova edição de Baird, desta vez num plano colaborativo, lado a lado com a harpista Mary Lattimore – reconhecida por Thurston Moore, Steve Gunn ou Kurt Vile, entre outros.
Do trabalho de Lattimore , há que dizer que apenas pairam elogios. Antes de mais, pela inovação estética aplicada a um instrumento tão místico e também tão cheio de lugares-comuns quanto a harpa. Zeena Parkins or Joanna Newsom têm sido algumas das responsáveis por na última década terem redefinido a sua escuta num contexto mais alargado, ou mais pop; contudo, a sua abordagem não deixa de ser distinta. Não se limita a explorar o que de mais óbvio o instrumento transmite, ou seja, as sensações celestiais desde há muito presentes nos livros de História Antiga. As aparentes limitações naturais são por si testadas por noções de audição profunda (teorizada por Pauline Oliveros) e pelo recurso de material digital. São já imensos os discos em que participa, seja em nome próprio ou como participante, tornando-se uma das mais requisitadas artistas do momento. O seu vasto laboro tem sido alvo de brilhantes ensaios, identificando-a como uma chave no seu tempo, estabelecendo pontes entre esferas sonoras distantes ou simplesmente pela envergadura do seu léxico.
Ghost Forests é o álbum que junta estas duas magníficas pela primeira vez em estúdio. A edição oficial será em Novembro deste ano, mas o duo passa pela ZDB numa apresentação inédita do que aí poderemos escutar. Uma real convocação de coisas maiores e um encontro naturalmente imperdível. NA