A contínua mestiçagem na eletrónica tem permitido sonhos invulgares e essencialmente futuristas. Da povoação mexicana de Hermosillo, germinou um dos epicentros atuais dessa alteração de percepções sobre a música latina. Ángel Ballesteros, atualmente a residir na capital do país, é uma agitadora contra-cultural de raíz. Entre o design, as artes visuais e a curadoria de festas e exposições, assume o papel de vocalista nos Meth Math – junto dos produtores error.error e Bonsai Babies. Partindo dos alicerces do reggaeton, o plasma imagético da banda toma uma multiplicidade de tons e formas pela combinação de elementos pop vanguardista, espírito rave e uma iconoclastia contagiante. Se as reconfigurações estéticas de Isabella Lovestory, Amnesia Scanner, Tomassa Del Real ou Charli XCX em redor desta realidade emancipada foram chave para este entendimento, Meth Math serão a uma manifesta intenção dessa magnífica genética em ebulição. Música verdadeiramente desalinhada como convém, capaz de imaginar morfologias extravagantes e sedutoras.
Chupetones emerge em 2024 como postal de apresentação de um percurso que despertou curiosidade e gerou fascínio. Com o apoio do mago Nick Léon (Rosalía, DJ Python, et al), o disco traz um vórtice de emoções ora em antítese de estados, ora em aglutinação e cristalização do momento – e talvez seja nesse limbo, e dualismo das coisas, que os Meth Math revelam o seu magnetismo. Visão algo distópica, e, porém, celebratória de uma tragédia inevitável, a expressão pop coexiste com um romantismo surrealista – ácido e adocicado em semelhantes proporções. Cada pormenor parece propositadamente maximizado e distorcido, quase ao limite. De certo modo, uma abordagem ousada cuja experimentação não só é latente, como essencial, no encontro de uma sonoridade transversal a tantos ecos e símbolos da cultura popular. Repelente a fórmulas, predomina criatividade e engenho, mas também petulância. Questionando e desconstruindo identidades culturais, sexuais ou musicais, ressalta um intuito de urgência. Resgate natural da velha filosofia punk, embora aqui disseminada e turbinada num festim entre o sagrado e o profano, num mundo cada vez mais difuso entre o real e o virtual – mundo esse em que os Meth Math dançam antes do prometido apocalipse. NA