Quem olhou com atenção para a maioria das listas de 2012, não pode negar. O rock desapareceu do radar da imprensa. Ou reduziu-se, na melhor das hipóteses, a uma modesta nota de rodapé que perde o fôlego só para dizer “presente”. A ocupar-lhe o lugar estão coisas (aparentemente) irreconciliáveis: canções inspiradas no design ou na nouvelle cuisine; e música pop que, numa sanha revisionista, descobre um brilho especial no lixo do passado.
Feito o desabafo, convém celebrar as excepções que fazem mais do que confirmar a regra: resistem-lhe, combatem-na. Os Metz são Alex Edkins, Hayden Menzies e Chris Slorach e assumem semelhante missão com uma altiva indiferença (como deve ser), destilando, com a elegância e a fúria necessárias, um noise-rock poderoso.
Agarrados à etiqueta, os mais desconfiados dirão que é uma banda retro, mas a queixa peca por má-fé e ignorância. O que estes canadianos conseguiram num só disco (o homónimo, lançado o ano passado pela Sub Pop) foi rejuvenescer o classicismo que envolvia o rock alternativo dos anos 1990 (Nirvana, Jesus Lizard, Shellac, Fudge Tunnel, Rapeman, Therapy, Drive Like Jehu) e, ao mesmo tempo, resgatar do esquecimento a experimentação juvenil dos Silverfish e dos Walking Seeds. E esse duplo feito ficará para a história do rock muito à custa da invenção dos três músicos: na bateria, Hayden Menzies concilia força bruta e leveza (John Bonham meets Colm Ó Cíosóig) enquanto Chris Slorach e Alex Edkins sacam das guitarras, melodias e sons que produzem um efeito encantatório. Por momentos, não reconhecemos o que escutamos e essa incerteza é preciosa.
O rock pode ter desaparecido do radar da imprensa, mas esta noite ninguém ousará dizer que morreu. JM
Metz ⟡ Cangarra
Metz
Cangarra
Guitarra e bateria de, respectivamente, Cláudio Fernandes (Manuel Gião, Debut!) e Ricardo Martins (Lobster, Asneira, Adorno, Suchi Rukara, entre mil e um projectos). Rock instrumental, torrencial sob a paisagem de Lisboa. Que promete ser tão inebriante como um dia foi a música dos Bardo Pond. O duo regressa à ZDB, dois anos depois da mítica noite com os Monotonix, para apresentar o seu novíssimo disco ‘D’.