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Mhysa ⟡ Jejuno ⟡ DJ Lawd Knows

qua28.03.1822:00
Galeria Zé dos Bois


Mhysa
Jejuno

Mhysa

Repensar as políticas de género é uma das mais prementes questões do presente e nesse plano a arte assume justamente a condição de vanguarda que lhe compete, avançando a direito por novos territórios, procurando desbravar novas possibilidades que acomodem a liberdade que o futuro exige. E eis Mhysa ou E. Jane, artista multimédia oriunda de Maryland que actualmente opera a partir de Filadélfia, a cidade do amor fraternal e de Rocky, a cidade dos Roots, onde em tempos Sun Ra se reinventou como ser vindo de outro planeta. Nesse complexo processo de desmontagem de identidades, E. Jane – que usa pronomes plurais para se referir a si mesma – criou Mhysa, alter-ego pop responsável pelo extraordinário fantasii, um dos álbuns do ano nas contas da Wire que pela mão de Nina Power explicou que “quando Mhysa aborda fragmentos de ‘Naughty Girl’ de Beyoncé (no tema ‘Tonight’), é como uma voz solitária e desacompanhada na natureza selvagem”. A natureza selvagem – a selva – é o presente político de uma América dominada por Trump. A voz solitária é a arte que se ergue contra os limites, as mordaças e as armadilhas dos que não querem que o tempo avance.

Numa entrevista para o Rhizome.org, E. Jane explicou-se: “uma parte de mim penso que as instituições brancas tentaram abafar. Agora mantenho-a comigo e revelo-a quando estamos seguras para ser, preferencialmente em espaços em que as mulheres negras podem ser elas mesmas”. Identidade como um lugar seguro, reinvenção como busca de liberdade. Tudo isto existe em Mhysa. Tudo isto é facto.

Em fantasii Mhysa usa o RnB moderno, ecos de disco e de rap, como telas brancas para se apresentar ao mundo sob outra luz. Sempre com a voz banhada em espectral reverb. Porque no plural em que se reconhece e se sente confortável convivem outras dimensões: divide espaço no duo SCRAAATCH com chukwumaa (que também responde ao nome Lawd Knows, que assina três dos beats deste álbum e também marcará presença nesta noite), cria arte e exposições como a recente Lavendra em que apresentou uma reflexão sobre o papel da diva negra, inspirando-se em gente como Whitney Houston ou Brandy e Aaliyah. Essa influência dos anos 90 é notória em fantasii, mas surge transmutada, retorcida, como se o espelho em que se observa fosse de feira e tudo retorcesse. A Pitchfork descreveu o álbum de Mhysa como “um espaço conceptual focado” referindo-se ao facto de ser um gesto artístico integrado numa obra mais vasta, que tudo questiona e repensa enquanto ergue, por via de música esparsa, futurista e desafiante, uma dimensão necessariamente utópica, única forma de contrabalançar uma negra realidade circundante. Daí a dedicatória final a Doris Payne, anti-heroína que roubou jóias de forma rocambolesca, encontrando afinal uma forma de castigar o sistema capitalista em que não encontrou outro lugar. Em palco, todas estas ideias se elevam com uma capacidade performativa ímpar, frágil e forte, intensa e de uma beleza comovente, de acordo com os relatos disponíveis. Será assim também em Lisboa, na ZDB, porto seguro para quem procura liberdade, sem a menor sombra de dúvida. RMA

Jejuno

É já uma entidade absolutamente essencial no que de mais estelar e milagroso se tem feito por cá no último ano. Felizmente têm sido várias as oportunidades de acompanhar o percurso de Sara Rafael, por Lisboa e não só, onde cada apresentação se assume como momento realmente único e indefinível. As capacidades de evocar, catapultar e implodir convergem numa força maior, dificilmente imaginada a partir de um set composto por teclado e apenas alguns pedais. Energia bruta, caos e beleza. No fundo, coisas difíceis de expressar, mas que aqui se libertam como se nada de mais espontâneo fosse. NA

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