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Michael Chapman ⟡ Calcutá

qui07.06.1822:00
Galeria Zé dos Bois


Michael Chapman
Calcutá

Michael Chapman

É sem qualquer ponta de arrogância ou pedantismo que Michael Chapman pede para não o apelidarem de artista folk. Prefere descrever-se apenas como “a singer who plays a lot of guitar and a guitarist who plays a lot of songs” como quem assume essa impossibilidade de categorização pela sua via mais honesta. Já com mais de 50 anos de anos de caminho por entre a poeira dos blues e da country, da elevação ragga, do drone e mais vias de exploração constante, foi mesmo no fértil circuito da folk britânica da passagem dos anos 60 para 70 que foi inicialmente acolhido após aprendizagem na labuta do jazz e do skiffle, partilhando uma espécie de espaço físico e espiritual com nomes como Roy Harper, Mike Cooper ou Wizz Jones num momento de ebulição criativa em que songwriting se unia a uma abordagem prodigiosa à guitarra.

Foi exactamente nesse período que lançou pela imponente Harvest quatro álbuns superlativos – Rainmaker, Fully Qualified Survivor. Window e Wrecked Again – que sedimentaram uma linguagem própria, capaz de albergar diferentes abordagens à voz e à guitarra – da balada orquestral, ao uivo do rock ou ao andamento ragtime – sob um mesmo signo em canções de clamor e verdade. Após passagem para a Deram – subsidiária da Decca – no início da década de 70, continua a editar com regularidade, de onde se destaca ‘Savage Amusement’ na sua abordagem mais roqueira, antes de saltar para fora do radar durante das três décadas seguintes num trajecto de franca e contínua actividade e descoberta pessoal injustamente obscurecido pelos tempos de então.

Uma generosidade e profunda dedicação que tiveram na passagem para os anos 10 deste milénio um novo fôlego e redobrada atenção, impulsionada pelas palavras laudatórias de gente como Thurston Moore ou Jack Rose, numa campanha de reedições dos quatro primeiros álbuns pela Light In the Attic, na essencial colecção ‘Trainsong: Guitar Compositions 1967-2010’ pela sempre atenta Thompkins Square ou na exploração beatífica do drone em tributo sentido aos fantasmas de Rose e John Fahey de ‘The Ressurection And Revenge Of The Clayton Peacock’ pela Ecstatic Peace! Por essa altura partilha também palco com a comuna freak da No Neck Blues Band como que a alinhar a essência do antes e do agora num mesmo contínuo de admiração e lança pela Blast First Petite o lindíssimo tratado minimalista à guitarra de ‘Pachyderm’.

O respeito e amor mais do que devidos a um legado que ainda tem muito por revelar e vai continuando a crescer continuamente nos dias de hoje com um fulgor admirável, com o ano passado a trazer-nos um álbum onde escancara todo o seu fascínio de sempre com a música americana – 50 – na companhia de Steve Gunn e demais pandilha da Paradise of Bachelors e ‘EB=MC2’ em colaboração com o israelita Ehud Banai. Presença abençoada neste palco de um dos maiores mestres, em estreia absoluta no país. Uma daquelas ocasiões em que o termo imperdível é mesmo para levar a sério. BS

Calcutá

Calcutá é o nome escolhido por Teresa Castro para compor e interpretar música a solo, destacando-se assim do outro projecto que integra, a banda Mighty Sands (ex-Los Black Jews). Aqui também canta em inglês e toca guitarra, mas distingue-se por se enquadrar numa estética ghost folk: o seu fingerpicking sereno e insistente, veículo harmonioso e rítmico para as melodias e letras, leva-nos para o outro lado do Atlântico, para a terra dos westerns, para tempos que só podemos aceder através de histórias, de memórias, de fantasmas. AR

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